quinta-feira, abril 23, 2015

6 notas 6 sobre a "Estratégia para a Década" do PS

  1. Primeira constatação: "Uma Década para Portugal", estudo apresentado por um grupo de economistas a pedido do Partido Socialista, é um documento sério, bem estruturado e coerente na sua relação entre as medidas propostas e os resultados que espera obter. Digamos que o que consta do documento, o seu conteúdo em termos genéricos, "faz sentido". Se aos estímulos propostos corresponderão, nas proporções anunciadas, os resultados mencionados, convenhamos que me parece estar aí o PS a assumir algum risco, mas, nas actuais circunstâncias, é impossível assumir qualquer estratégia alternativa, mesmo que "soft", sem a assumpção de alguns riscos inerentes.
  2. Segunda constatação: Estamos perante um documento cuidadoso, que pretende ir tão longe quanto possível enquanto alternativa mas dentro do actual quadro das políticas europeias. Estamos, portanto, muito longe de uma qualquer estratégia de afrontamento ou de ruptura, o que significa os erros do Syriza foram aprendidos e assimilados. É pois, uma estratégia "no fio da navalha", com os riscos inerentes à situação, que vai tão longe quanto possível para ser vista como alternativa mas fica suficientemente perto do "mainstream" europeu para conseguir ser implementada nas suas linhas gerais. Também para permitir compromissos abrangentes.
  3. Terceira constatação: Em termos globais, opõe uma estratégia de "front loading" de crescimento dos rendimentos e do investimento, em teoria potenciadores do crescimento, à estratégia adoptada "in illo tempore" pela coligação "Troika/Passos/Gaspar" de ajustamento via "front loading" das reduções dos rendimentos (directamente ou por via dos cortes profundos na despesa) e do investimento. Podemos dizer - e com alguma razão - que a estratégia agora adoptada pelo PS só é possível em função das opções iniciais da coligação e de alguns resultados entretanto obtidos, mas isso vale também para o actual governo que, apesar disso, insiste no DEO, e apesar de algumas "nuances", nas suas opções de sempre. 
  4. Quarta constatação: desde sempre tenho sérias dúvidas sobre os resultados e objectivos da redução do IVA da restauração para 13%. Em primeiro lugar por uma questão de fundo em relação ao IVA: discordo da existência de várias taxas, consoante os sectores, preferindo se financie quem mais precisa por via das transferências sociais. Em segundo lugar, e no caso concreto, tenho sérias dúvidas a redução do IVA da restauração para a taxa inicial de 13% tenha como resultado uma dinamização significativa do sector, a criação de emprego e/ou a redução do ritmo da perda de postos de trabalho. Mas enfim... estamos - acho - perante uma opção política, já que o sector vale muitos milhares de votos.
  5. Quinta constatação: mexer na TSU ou no financiamento da Segurança Social é politicamente demasiado sensível e afecta uma boa parte do eleitorado de um país envelhecido e dos potenciais votantes no PS. Mesmo no interior do partido, parece-me irá gerar controvérsia. Quer-me parecer que o PS vai ter que reequacionar a questão, tenha ou não razão nas suas actuais propostas. É a política, estúpido! 
  6. Sexta constatação: perante uma comunicação social maioritariamente adversa e demasiado viciada no "soundbite" (mas será que o PS não contou com isso? Parece-me falha imperdoável), falta ao documento, digamos, uma "ideia-choque" impactuante junto da opinião pública, que o sintetize e chegue com facilidade aos títulos dos jornais e abertura das televisões. Digamos que lhe falta o "obviamente, demito-o" que lançou a campanha de Humberto Delgado, a fagulha que então incendiou o país. Acho que a oposição (à esquerda e à direita) já percebeu isso e tem respondido, maioritariamente, com "slogans" e "soundbites", muitas vezes roçando a indigência intelectual mas que funcionam mediaticamente. E o PS e o impacto do documento estão já a sofrer disso as respectivas consequências.

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