segunda-feira, fevereiro 23, 2015

O que nos ensinou a Grécia nos últimos dias

Duas coisas (pelo menos) vieram as negociações entre o Eurogrupo e o novo governo grego provar:
  1. Não existem alterações súbitas ou profundas na política de cada Estado decididas de forma unilateral, num só país,  nem a politica actualmente dominante na UE é susceptível de ser alterada numa base puramente nacional, ganhe quem ganhar as eleições em cada Estado, o que coloca problemas graves às democracias locais. Como o provam os planos Draghi e Juncker, em conjunto com as recentes declarações deste último, e o sucesso limitado do governo grego, qualquer evolução tende a ser lenta, numa política de "pequenos passos" e tenderá a ser gerada no interior das forças que constituem aquilo a que poderíamos chamar o próprio "sistema" da UE. Significa isto que o resultado das eleições nacionais é totalmente indiferente à evolução europeia? Claro que não, é mesmo fundamental para influenciar a política europeia e aceitar passivamente o "austeritarismo" seria a pior das soluções. Mas o que não poderemos esperar é que a eleição nacional de forças anti-austeritárias, radicais ou moderadas, se traduza em mudanças bruscas e imediatas na política dominante.
  2. Para além da contradição entre países do "norte e do sul", "devedores e credores", "excedentários e deficitários", "periféricos e centrais" ou o que se lhes queira chamar, existe na UE e no Eurogrupo um sistema de contradições e interesses, mesmo que puramente conjunturais e que se podem ir modificando mais ou menos rapidamente, muito mais complexo e que coloca limites e gera dificuldades à criação de qualquer possível "frente de entendimento e de combate" entre os países em dificuldade, independentemente dos partidos que constituem os respectivos governos. Isto também não significa que esteja correcta (muito longe disso) a atitude do governo de Passos Coelho de "colagem" aos interesses alemães e repúdio da posição grega, mas sim que há que afastar o simplismo e estar atento à complexa teia de interesses e contradições que se vão gerando no seio da UE tirando dela, a cada momento, o melhor partido.   

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