terça-feira, setembro 02, 2014

Reflexões sobre o fecho do mercado

Fechado o mercado e serenado o frenesim, fim posto a esta autêntica "silly season" futebolística que vai de Junho a Setembro, tempo para uma reflexão mais ou menos aprofundada. Tentemos...
  1. Este frenesim dos últimos ou do último dia só é possível pelo poder adquirido pelos agentes dos jogadores no mercado, cujo negócio só se efectiva na compra e venda dos passes desses mesmos jogadores. Para os mais "distraídos": o objectivo dos agentes é de curtíssimo prazo; só ganham dinheiro se transacionarem os passes dos jogadores que representam e para tal têm de aproveitar o período de abertura do mercado até ao último momento. Esse poder, recentemente adquirido, alicerça-se fundamentalmente na globalização permitida pela lei Bosman, já que antes dela vigorar os clubes estavam limitados, consoante os países, a dois ou três estrangeiros por equipa e a natureza quase "paroquial" do negócio, a pequenez dos mercados nacionais limitava a capacidade de actuação dos "empresários". Para além da lei Bosman, a criação da Champions League, possibilitando o acesso de vários clubes do mesmo país à prova máxima da UEFA, e o "dinheiro novo" que em certa medida e por esse motivo alguns clubes conseguiram atrair, vieram contribuir para potenciar ainda mais o poder desses mesmos "empresários", não raramente acabando por se transformar em financiadores dos clubes, quer directamente, quer através dos tão falados "fundos" em que participam.  
  2. É todo este negócio, e não apenas a questão mais restrita, mas também relevante, das datas de abertura e fecho do mercado, que carece, como qualquer outra actividade comercial, industrial ou financeira, de regras que regulamentem a sua actividade, para que o futebol não se transforme numa indústria sem regras ou com estas ditadas na circunstância e ao sabor dos interesses de cada um. Seja, em algo mais parecido com a forma de actuação de uma "máfia" e menos com um negócio digno. Note-se: não se trata de condenar o futebol enquanto negócio, longe disso (o futebol tornou-se até num desporto bem mais atractivo e espectacular nos últimos anos), mas de o fazer obedecer a certas regras que o tornem mais transparente, equitativo e permitam não só o retorno a um maior equilíbrio entre poderes (clubes e agentes de jogadores, por exemplo), como a sua monitorização plena pela sociedade (sócios, accionistas e "stakeholders") e pelos poderes públicos.
  3. Fica também cada vez mais claro que o poder adquirido por alguns "empresários" e "fundos", com o apoio da comunicação social e cavalgando um negócio completamente desregulamentado, chegou ao ponto de certos clubes se transformaram em autênticos "parques de estacionamento", de curto ou longo prazo, para jogadores e treinadores a eles ligados, com todos os perigos que daí advêm para a sustentabilidade desses mesmos clubes. Basta olhar para o Depor, Valência e Mónaco e perceber que Jorge Mendes será "a mão que embala o berço". 

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