segunda-feira, setembro 29, 2014

3 notas sobre a noite eleitoral

  1. Péssima cobertura da noite eleitoral pelas televisões. Tivemos de tudo: "pivots" sem preparação política e que se limitavam a repetir e a questionar os comentadores na base da "vulgata" mais rasteira da política interna; repórteres perdidos nas directas - quando nada as justificava - fazendo perguntas sem nexo a apoiantes de ambas as candidaturas e ao "povo socialista" em geral; comentadores, na sua maioria, medíocres (ou menos que isso), como Inês Serras Lopes, João Marcelino, Paulo Baldaia e mais um ou outro cujo nome não recordo (salvaram-se dois ou três); e, na SIC Notícias, dois sonolentos representantes das candidaturas (Vera Jardim e João Soares) que nada adiantavam à compreensão do que estava em causa. Um desastre.
  2. Continuo a "pasmar" (é o termo) quando oiço, nessas mesmas televisões, que nada de fundamental distingue as candidaturas de Seguro e Costa. É mentira: pese embora a sua enorme importância, e  ao contrário do que nos têm vindo a fazer crer, a política não se resume - e ainda bem - às propostas concretas sobre o "déficit", a dívida, os cortes nas pensões e nos salários. Portanto, existe uma diferença radical e de fundo entre quem se apresenta a sufrágio com uma proposta essencialmente populista e quem mergulha as suas raízes na tradição ideológica das grandes famílias políticas europeias da segunda metade do século XX. Quem não entende isto ou não percebe nada de política e história das ideias ou está de má fé. 
  3. Também ouvi críticas ao facto de António Costa não ter mencionado Seguro no seu discurso de vitória. Discordo dessas críticas, demasiado ancoradas no que a política tem de pior. Seguro baseou a sua campanha num conjunto de ataques pessoais a Costa e a alguns dos seus apoiantes, culminando com acusações de "traição" e de promiscuidade entre política e negócios na candidatura deste último. Correcta ou incorrectamente, com razão para tal ou sem ela (não vem agora ao caso), Costa consegue transmitir uma imagem de "confiança" (é esse o seu principal trunfo) e de, ao contrário de Seguro, Passos ou José Sócrates, estar nos antípodas de ser um político "fabricado". Nestas condições, enveredar por uma saudação ao seu adversário poderia ser interpretado como um gesto de hipocrisia (tão comum na política) ou de falsidade que dificilmente colaria à imagem que, bem ou mal, conseguiu construir.

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