quinta-feira, agosto 14, 2014

A fúria referendária de António José Seguro

Tanto quanto sei, um partido político concorre a eleições com base num programa político. E caso, nessas eleições, não consiga alcançar uma maioria absoluta de deputados no parlamento, será ainda tendo como base o programa apresentado que negociará com outros partidos, num processo que implica compromissos e cedências entre os negociadores, a formação de um governo com apoio maioritário. Parece-me que com esta proposta Seguro está:
  1. A fazer tábua rasa desse programa. Ou seja, pouco importa o que se apresenta aos eleitores, já que depois se perguntará aos militantes como querem que governe, tendo em conta que o programa de uma coligação "à esquerda" será com certeza muito diferente de uma outra, "à direita".
  2. A colocar nas mãos de um universo mais reduzido de cidadãos (os militantes) uma decisão para a qual terá sido mandatado, através de um programa político sufragado em eleições, por um universo bem mais amplo de cidadãos (os eleitores). Não sei o que os potenciais votantes do PS poderão pensar do seu voto ser assim desprezado.
Por outro lado, a pergunta que Seguro pretende referendar (coligação "à esquerda" ou "à direita") poderá ter em conta a vontade do PS, mas onde entra nela a vontade de eventuais parceiros de uma futura coligação? Ou seja, se a resposta maioritária ao referendo for favorável a uma coligação "à esquerda" (por exemplo) e essa se revelar impossível face ao comportamento de dois partidos "incoligáveis" (PCP e BE), que faz Seguro? Consulta novamente os militantes ou decide contra a sua vontade expressa no tal referendo?
Claro que António José Seguro não está nada preocupado com este tipo de questões, pois esta sua fúria referendária e populista, para além de expor dramaticamente as limitações pós-eleitorais do partido quando não consegue alcançar uma maioria absoluta, tem apenas um objectivo de curto-prazo: piscar o olho a militantes e "simpatizantes", apelando a um "basismo" que costuma "cair bem", para ganhar votos nas eleições internas do partido. O resto? A política a sério? Oh, isso logo se verá.

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