segunda-feira, maio 26, 2014

Eleições europeias

  1. Se nada de anormal se passar, os chamados "partidos do arco da governação" (prefiro chamar-lhes "partidos do consenso europeu") chegarão às próximas eleições legislativas em posição de quase-fraqueza extrema, ou pelo menos muito fragilizados por uma derrota estrondosa (PSD/CDS), por via de três anos de enorme austeridade e da promessa de sacrifícios sem fim, e de uma vitória pírrica (PS) fruto da incapacidade de, em Portugal e na Europa, se apresentarem como alternativa, situação que, inclusivamente, tem potenciado o aparecimento de líderes sem carisma (Seguro, Hollande, Rubalcaba, etc), que são consequência e não causa. Não podendo existir candidaturas independentes, essa fraqueza proporcionará o aparecimento de alguns partidos do tipo "barrigas de aluguer" (quer se queira quer não, uma espécie de subversão legal do sistema de partidos), ao estilo MPT, protagonizados por líderes carismáticos e portadores, em maior ou menor grau, de propostas anti-sistema. Terão, no entanto, uma limitação: não basta apresentar uma lista de 21 nomes; será, se não necessário, pelo menos desejável, concorrer num número elevado de círculos eleitorais, o que dificulta a sua acção, embora exista a possibilidade real de um ou outro (não mais) elegerem deputados em círculos como Lisboa, Setúbal ou Porto.
  2. Se o PCP (a par de Marinho Pinto, claro) foi o grande vencedor da noite, também ficaram bem à vista as suas limitações: o partido dificilmente ultrapassará um patamar situado à volta dos 13% de votos. Ontem, tinha tudo a seu favor (incluído a abstenção) e ficou abaixo deste número. A sua ideologia, imagem, origem social de uma maioria dos seus dirigentes e homogeneidade social dos seus militantes, em que se baseia uma boa parte da sua força política, constitui também um entrave à sua expansão eleitoral. Mas não é a expansão eleitoral o principal objectivo do PCP, que tem e exerce a sua força em outros terrenos. 
  3. Discutir até à exaustão os resultados internos sem analisar o que se passou na Europa é como limitar-mo-nos a discutir a Liga portuguesa sem nos preocupar-mos com a Champions, a Premiership ou La Liga. Ou é ainda mais revelador de uma mentalidade provinciana e tacanha, de um espírito "umbiguista". Ontem, um autêntico vendaval político varreu a Europa (França, Áustria, Dinamarca, GB, Finlândia, Grécia) e, num ou noutro sentido, é ainda daí que poderão soprar ventos capazes de conduzir a UE à mudança. Mas não estou nada certo a UE (ou quem actualmente a dirige "de facto") queira mesmo mudar.  E não apenas por cegueira política; mas muito na medida isso possa também servir os seus interesses.
  4. O que acontecerá um dia se um qualquer Marinho Pinto, com este ou outro nome, for eleito Presidente da República? Já esteve mais longe, e é também por essas e por outras que sou um adepto do parlamentarismo, sistema bem mais limitador desse tipo de aventuras "unipessoais", mais ou menos populistas.
  5. Quando o voto de protesto sobe, o "Bloco de Esquerda" desce e sofre uma derrota histórica. Perdeu o seu "momentum", fruto das ideologias e práticas políticas dos núcleos duros de dois dos partidos (UDP e PSR) que estão na sua origem, e muito dificilmente algum dia o recuperará. O que é ainda mais penalizador para quem tem dirigido o "Bloco" é que isto acontece num momento em que o PS e a social-democracia europeia estão em enorme conflito com as sua própria "alas esquerdas", o que significa existia (ou poderá existir) espaço político para a afirmação de um pequeno partido nessa área. Incompetência pura e simples das direcções do Bloco de Esquerda ou apenas impossibilidade de ultrapassar as suas origens? Inclino-me para esta última.

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