sexta-feira, julho 19, 2013

Muito bem, Seguro

Seguro, muito bem. Une o PS, defende a autonomia dos partidos e a democracia parlamentar das tendências presidencialistas e das tentações "cesaristas" e pode ter dado um passo importante para ganhar o país. Por outro lado, obriga o Presidente da República a tomar a decisão que, de acordo com a Constituição, lhe compete: uma vez que, quanto a mim com razão, não vê razões para dissolver a Assembleia da República, empossar o governo remodelado ficando a ele e à sua actuação indissoluvelmente ligado.

6 comentários:

Queirosiano disse...

Esta é a interpretação "simpática". A outra é que, ao nível da falta de capacidade de afirmação que lhe é habitual, ficou refém da tralha dos narizes de cera do partido (reparou na lista dos items que ele afirmou pretender "negociar"?).
Aguardemos pelos próximos episódios.
Se nos próximos meses houver um arremedo de melhoria económica, poderemos dizer que assistimos em directo e ao vivo ao hara-kiri do PS.
Nunca se veria o Mário Soares, no tempo em que não estava senil, cair numa destas.
Cumprimentos

JC disse...

A questão é bem mais vasta do que Soares e Alegre (c/ os quais, hoje em dia, não tenho demasiados pontos de identificação) ou a natureza dos "items" a negociar. Tem a ver com questões básicas como a política de "empobrecimento", a democracia e a natureza do regime. E quanto a mim, isso são princípios inegociáveis, como Soares provou quando, quase sozinho,esteve contra Eanes.
Cumprimentos

Queirosiano disse...

Estamos de acordo em que a questão é mais vasta que Soares e Alegre, que recusam a realidade de serem meras footnotes de um tempo que já não é o deles. E é também mais vasta que as excrescências perniciosas que os partidos segregam (Lellos, Galambas, p. ex), mas que em situações pontuais podem ter um peso que não corresponde à sua real importância.

Mas aquilo que se leva para um processo negocial revela muito da predisposição e boa-fé de quem vai negociar. Daí a relevância do número e qualidade dos items. Concordará que multiplicar alíneas de relevância muito diversa é uma táctica conhecida para se ter a todo o momento a possibilidade de constatar um desacordo insanável.

Julgo estarmos de acordo em que condições como "prioridade ao emprego e à economia", "equilibrar as contas públicas", que devem ser particularizadas e desenvolvidas (coisa que não se viu), não podem ser postas a par da "ligação de Sines a Espanha" ou da bizarra mixórdia proposta para a TAP. Quem mistura deliberadamente tudo isto não demonstra seriedade. Pior, demonstra incompetência e falta de sentido da realidade: para só falar do último exemplo, é sabido que, em condições bem menos dramáticas que a actual situação em Portugal,, a Sabena e a Alitalia foram privatizadas porque simplesmente era a medida que se impunha no estado concreto das economias respectivas.

Cedo ou tarde (agora, provavelmente mais para o tarde), o PS vai ser chamado a decidir como Governo algumas das grandes linhas de força que agora se recusou a discutir com seriedade e realismo. Como, ao contrário do que PC e BE pensam (ou pelo menos apregoam), o dinheiro não cai do céu por uma simples manifestação de vontade, e como a realidade tem a pele dura, veremos o PS a ter de engolir as prosápias que ouvimos ontem e que - repito - cheiram muito mais a tentativa de sobrevivência e vassalagem interna do que ao resultado de um mínimo de reflexão. A que acresce o handicap de, nessa altura, já ter perdido a pouca credibilidade interna e externa que lhe restava.

Sinal dos tempos: no momento em que precisava de um Mário Soares ao nível dos anos 70/80, o partido tem o fantasma/caricatura de Mário Soares. Que, valha a verdade, ainda chega para intimidar o pobre-diabo que foi escolhido para secretário-geral.

Cumprimentos

JC disse...

Duas notas: 1. considero João Galamba um político inteligente, que nada tem a ver c/ José Lello. Nem sempre estou de acordo c/ ele, mas sabe pensar e fala sem subterfúgios.2. O PS vai ter de enfrentar tudo o que diz (já agora, sempre fui a favor da privatização da TAP, desde há mtºs e longos anos).Mas, como disse, há questões políticas de princípio e que têm que ver com a natureza do regime e do Estado Democrático, que devem sempre sobrelevar tudo o resto;e, como sabe, sou convictamente parlamentarista. Já agora, devo dizer-lhe que não dou mtª importância aos documentos apresentados por Seguro e pelo PSD, que pouco ou nada devem ter a ver com o que se discutiu nas reuniões e servem apenas para agitar às massas, como propaganda. No fundo, nenhum dos partidos queria o acordo e tenho-me tb perguntado, desde o início, qual a sua real utilidade - excepto para a imagem e objectivos de Cavaco Silva, claro, e os adeptos de uma solução presidencialista musculada para o regime.

Queirosiano disse...

Já agora, duas notas também (sem querer imitar...)

1. Sabendo que não estamos aqui a discutir pessoas, considero o Galamba um Lello pós-moderno.
2. Sendo também convictamente parlamentarista, tenho as maiores reservas quanto ao "parlamentarismo de bloqueio" baseado no método de Hondt, que as democracias parlamentares mais antigas e "adultas" têm rejeitado sistematicamente.

Cumprimentos

JC disse...

1. Estou em desacordo
2. A questão dos sistemas eleitorais levar-nos-ia mtº longe. Mas digo desde já que, no caso português, prefiro o método proporcional (corrigido, como o de Hondt, ou não) ao sistema de círculos uninominais do tipo "winner takes all".
3. (acrescento quanto ao discurso de Seguro) Claro que muito do que diz AJS é inaplicável nas condições actuais. Mas até 2015, que deve ser a data das próximas legislativas, mtª água vai correr (aqui e na UE) e AJS, uma vez governo, pode sempre alegar que este é a sua proposta a apresentar a uma qq "troika" como base de negociação. E uma coisa é ceder à UE ou a uma qq "troika" e outra, bem diferente, ao partido político directamente concorrente.
Bom fds