quarta-feira, fevereiro 20, 2013

Francisco Assis: enfrentar a turba em Felgueiras não chega para fazer um bom político

Por vezes, espanto-me ao ver políticos experientes cometerem erros demasiado primários. Claro que separam PS de PCP e BE comportamentos e concepções de Estado e sociedade que inviabilizam qualquer hipótese de coligação "à esquerda". Que tornam bem mais do que improvável, e quanto a mim até mesmo indesejável, um acordo de governo nessa área. Por outro lado, é sabido falta ao PS um partido-muleta, de centro ou de esquerda, talvez ecologista à boa maneira do "Die Grünen", que permita ao PS governar em coligação. Mas tendo dito isto, não percebo qual a necessidade de Francisco Assis, a mais de dois anos de um acto eleitoral e com o governo mais impopular de sempre em funções, vir, pressuroso, e em vez de agir no sentido do partido se tentar fortalecer tendo como objectivo uma maioria absoluta, tecer considerações sobre possíveis alianças de um qualquer hipotético futuro governo liderado pelo PS. Ao dizer o que disse, Assis está precisamente a fazer o contrário: enfraquece o partido, dando sinais a uma sociedade radicalizada de que o voto no PS significará porventura a manutenção no governo de um dos actuais partidos da coligação, mesmo que expurgado (como, não se sabe) de alguns dos seus excessos "neo-liberais" (a expressão é de Assis). É que ter razão e falar verdade nem sempre é o melhor caminho para o sucesso.

Igual resultado têm as suas críticas "aos que têm apupado o governo" e os pedidos ao parlamento para utilização de "uma linguagem menos extremista". Não me revejo em alguma linguagem, aqui e ali, usada na Assembleia da República, como não partilho do radicalismo dos que se acolhem sob o "slogan" "que se lixe a troika". Mas o que estas afirmações de Assis revelam é não só uma enorme falta de cultura parlamentar (o radicalismo de linguagem, mesmo o extremar de posições, fazem parte, historicamente, da luta política e dos debates parlamentares), como um desconhecimento do modo como funcionam as sociedades abertas e democráticas, onde as manifestações de rua, os "lobbies", as acções de desobediência civil, a circulação de informação e a livre crítica, muitas vezes sob a forma de um humor iconoclasta, sempre exerceram um papel fundamental. No fundo, o que me parece é que Francisco Assis não percebe o país nem o mundo em que vive, provando que não basta dar o "peito às balas" perante uma turba enfurecida em Felgueiras para  que de tal acto nasça um bom político. 

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