quarta-feira, fevereiro 20, 2013

3 notas adicionais 3 sobre o caso Relvas/ISCTE

  1. Os alunos de uma universidade (ou de várias) impedirem um ministro de falar num debate público organizado por uma cadeia de televisão nas instalações da sua universidade nada tem a ver com qualquer tipo de violência exercida na rua sobre as forças encarregues de manter a ordem ou evitarem a destruição do património público ou privado. Independentemente de questões de legalidade ou de liberdade de expressão que possam ser consideradas, no seu grau ou qualidade estamos a falar de coisas muito diferentes, e mesmo quem possa estar em desacordo com a atitude dos estudantes do ISCTE tem forçosamente de levar isto em consideração.
  2. Que me lembre, historicamente ou de vida vivida, nunca  grandes acções de massas que fizeram avançar o mundo e progredir a sociedade foram levadas a cabo sem um certo grau de desobediência civil, de algum afrontamento da chamada "ordem estabelecida", fosse ela de natureza política, social, moral ou de costumes. Assim aconteceu no Maio 68, com o movimento "hippie", com a luta pelos direitos cívicos (e a França, o UK e os USA até eram e são democracias) e assim se implantou a nova cultura juvenil nos anos do pós-guerra. Indo um pouco mais longe, assim se conquistou o direito ao sufrágio universal. Sem esses actos de "desobediência civil" - algo muito diferente de revoluções ou "golpes de estado", entenda-se - Merkel não seria hoje chanceler nem Obama presidente dos USA. Nem Alberto Martins teria sido ministro da Justiça, acrescente-se para os que andam mais distraídos. 
  3. O que se passou no ISCTE, tendo como alvo o ministro Miguel Relvas, acaba por colocar na sombra uma questão também ela fundamental e que tem a ver com a liberdade de informação e a autonomia dos orgãos de comunicação social: o que leva uma das duas estações de televisão privadas, líder de audiências, a convidar o ministro encarregue da tutela, que nunca foi jornalista, não é um académico da área nem tem obra publicada sobre o tema, mais, cuja actuação no governo nada tem de recomendável para a liberdade de informar e ser informado, para um debate sobre o jornalismo do futuro realizado numa universidade? Que poderia Miguel Relvas acrescentar a tal debate? Se alguém quer começar a interrogar-se sobre a promiscuidade entre governantes e "media", debater o tema, acho pode ter aqui um bom ponto de partida. 

1 comentário:

Pedro disse...

Obrigado. Três notas adicionais, mas não de somenos importância