quarta-feira, outubro 10, 2012

Seguro e a lei eleitoral

Por mais voltas que se lhe queira dar, o pré-anúncio por António José Seguro de uma proposta para reduzir o número de deputados só pode ter um objectivo, nu e cru: sabendo que o PS não tem à sua esquerda um partido com o qual se possa coligar ou estabelecer acordos de governo, conseguir, por via de uma nova lei eleitoral mais favorável e aproveitando o populismo anti-partidos e anti-parlamento que por aí vai, tornar mais fácil a possibilidade do PS vir a alcançar maiorias absolutas. É exactamente com isso que Seguro conta para vencer a (saudável) resistência de uma boa parte do partido e, mesmo que fale, "pour épater le bourgeois", da manutenção da proporcionalidade, estará sempre a referir-se a "alguma proporcionalidade", que não elimine mas diminua a representatividade de PCP e BE.

Independentemente das questões de oportunismo populista que Seguro resolveu cavalgar e que acabarão, como sempre, por ter consequências funestas para o PS e para o regime, Seguro  passa ao lado de duas questões importantes no médio/longo-prazo, porque para si inconvenientes:
  1. Uma das razões para o afastamento entre eleitores e eleitos é este tradicional "chico-espertismo" partidário, olhando essencialmente para os seus próprios interesses, para o seu umbigo e para o imediatismo, em vez de assumirem uma actuação de Estado e de privilegiarem os interesses estruturais do regime que deferiam também defender. Mais tarde ou mais cedo os portugueses perceberão o logro, seja porque Seguro será obrigado a recuar, seja porque acabarão por concluir quem serão os beneficiários da proposta.
  2. Na actual situação de crise, que tenderá ainda, e sem qualquer dúvida, a agudizar-se, em vez de excluir ou menorizar a representação parlamentar de algumas forças políticas, principalmente as situadas nos extremos ou nas franjas da sociedade, manda o bom-senso que essas correntes de opinião sejam integradas no chamado jogo político e parlamentar, da democracia representativa, evitando, ou minorando, a já de si existente tendência para a radicalização e para a violência. 
Acontece que nada do que aqui se diz é novo e quem não o percebe é bem melhor que vá para casa ou mude de profissão.

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