quinta-feira, maio 10, 2012

"Grande distribuição": o "lobo mau" e o "capuchinho vermelho"?

No muito que se tem falado, nos últimos dias, sobre a "grande distribuição", esta é normalmente apresentada como o todo poderoso "lobo mau" que explora os indefesos "capuchinhos" na figura dos "pequenos e médios" fornecedores. Desculpem o talvez exagero, mas tem sido mais ou menos assim. Como já disse - e repito - existe uma situação de oligopólio no lado na "grande distribuição que lhe confere um poder desproporcionado perante muitos desses fornecedores, algo que os governos deveriam ter em atenção e regular mas que compete também a esses fornecedores minorar através da criação de associações e grupos. Mas convém também dizer, em abono da verdade, que nem sempre tal dicotomia, entre o poderoso comprador e o quase indefeso fornecedor, é verdadeira: muitos dos principais fornecedores da "grande distribuição" são grandes empresas, uma maioria agrupada na associação Centromarca e muitas delas multinacionais bem mais poderosas do que Sonae ou JM juntas, com marcas que a "grande distribuição" não se pode dar ao luxo de ignorar ou delas prescindir. Exemplos? Procter & Gamble (Gilette - quase monopolista no mercado de lâminas de barbear - Duracell, Tampax, etc), Colgate-Palmolive, Beiersdorf (Nivea), Nestlé (Sical, Nespresso, Chocapic, Cérélac, etc), LOréal (em parte detida pela Nestlé), Unilever, associada à JM (Vaqueiro, Knorr, Becel, Lipton, OMO, CIF, Lux, Rexona, Olá, Skip e dezenas de outras), Danone, Pescanova, Central de Cervejas (pertencente ao grupo Heineken), Unicer (com ligações à Carlsberg e incluindo as águas das Pedras e Vidago) e tantas outras. Vale a pena continuar?

Pois... nem tudo o que luz é oiro e nem tudo o que balança cai, e os accionistas e executivos destas grandes companhias devem estar nestes últimos tempos "a encher a barriga de gozo" por verem uma boa parte da esquerda e outro tanto da boa consciência moral nacional a agirem em sua defesa.

3 comentários:

Vic disse...

O problema é mesmo moral, JC. Estou ciente de todas essas coisas. Mas mais que o que aponta que é importante, está o constante tom de provocação que o Soares dos Santos tem adoptado em relação às leis do país, que tem "furado" constantemente por serem leis cheias de...buracos. Se tivermos em conta que a JM e a Sonae têm sensivelmente 80% do mercado, está bem de ver em que mãos isto tudo está.
Por mim, e como não posso fazer mais nada, faço questão de não gastar um cêntimo nem num, nem noutro.

Anónimo disse...

Caro JC

A análise está (em parte) correcta... mas quando se fala em produtores nacionais e pequanos produtores o pensamento vai, na maior parte dos casos, para os pereciveis. E as marcas brancas que vão ganhando cota de mercado, a pontos de há alguns tempos atrás a Nestlé ter "ameaçado" ir embora ?
Um dos problemas, para além das margens esmagadas também tem a ver com prazos de pagamento e artimanhas usadas por quem domina, para as dilatar ainda mais.

Cumprimentos

JC disse...

Vic: não simpatizo c/ Soares dos Santos, nem concordo c/ uma boa parte das suas intervenções políticas (sim, são políticas). Não gosto deste estilo de empresário, ponto. Mas isso não me pode impedir (e não impede) de analisar o tema de acordo com aquilo que penso e sem estar sempre a ver ASS nas minhas análises. Certo? é isso que tento fazer, separando o agente da instituição.
Caro anónimo: Certo quanto ao que diz sobre os pequenos fornecedores. Mas digo desde o início destas minhas análises que a situação oligopolista da "grande distribuição" é, de facto, um problema. Mas, para além de não se poder meter tudo no mesmo caldeirão e mexer, com a falta de rigor correspondente, os tais pequenos fornecedores tb se podem associar. Veja o que se passa c/ as cooperativas leiteiras, que conseguiram poder. E a produção de leite é mesmo um dos melhores exemplos de pequenos produtores.
Cumprimentos