quarta-feira, abril 18, 2012

O sonho de Ferreira Leite...

Ora agora imaginem lá que aquele desabafo, sonho quase desejo de Manuela Ferreira Leite - o de interromper a democracia por seis meses - se tornava realidade? E quase de forma tácita e consensual, sem golpes de estado, dramas, derramamento de sangue, alteração da ordem constitucional e, até, dos actores políticos... Estou a delirar? Talvez nem tanto. Ora vejam lá bem...

O governo actua quase como quer, a seu belo-prazer. A oposição, presa a um MoU que assinou e à sua própria inépcia (PS), ou ao seu tradicional radicalismo inconsequente (PCP e BE), não existe ou não tem credibilidade política (ou ambas as coisas). Na área sindical, a UGT aderiu ao governo e, agora, entrou num delírio ao estilo "agarrem-me senão eu rasgo o que assinei", algo em que ninguém no pleno gozo das suas faculdades acredita. Já a CGTP faz aquilo que sempre fez com as inconsequências do costume: umas manifestações e umas greves "ditas" gerais que só ela e a esquerda radical acham vitoriosas. A cena mediática parece enfim pacificada, salvo cada vez mais raras excepções, com Marcelo Rebelo de Sousa e o populismo de Marques Mendes a dominarem o que era feudo de Moura Guedes. Na Assembleia da República vive-se a paz dos cemitérios, que só não é total porque alguns deputados do PS teimam, por vezes, em sair das catacumbas. Os sindicatos dos magistrados e juízes vivem em romântica "lua de mel" com a ministra e os agricultores, e todo o país com eles, até já começaram a "achar uma graça" e a tratar por "fofa" a ministra Assunção Cristas. Ah!, os professores! Mas alguém ainda se lembra que há professores, Fenprof e Mário Nogueira? Enfim, vai-nos valendo a Igreja Católica, que parece não ter achado lá muita graça àquela história do corte dos feriados de 15 de Agosto e 1 de Novembro. Ditadura, no sentido impositivo do termo, talvez não seja, mas na prática, tacitamente assumida, olhem que anda lá bem perto e parece quase ninguém se importa. E se isto continua assim, ainda seremos todos obrigados a uma visita a Paris para gritar bem alto à porta da Sorbonne: "Sócrates, volta. Perdoado não estás, mas vem cá abaixo por uns dias para ver se isto anima"!

2 comentários:

Karocha disse...

Tem toda a razão JC!

JC disse...

Pois se a razão fizesse andar o mundo...