quinta-feira, abril 05, 2012

Notícias da crise (1)

Na sua dissertação sobre a necessidade de rever o modelo social europeu, um eufemismo para dizer que se quer acabar com ele, coisa que constitui um dos objectivos-chave da actual vaga política ultra-liberal, Mario Draghi, Presidente do BCE, afirmou a dado passo: "observamos que o nível de desemprego é mais elevado nos países com um mercado de trabalho protegido". Duas questões:
  1. O desemprego é mesmo mais elevado nesses países em virtude do mercado de trabalho ser mais protegido ou existem neles outras condicionantes que, efectivamente, contribuam, de forma decisiva, para essa situação?
  2. Tendo actualmente Portugal a terceira taxa de desemprego mais elevada da UE e, ao contrário do que se faz crer, sendo, desde há muito, os despedimentos colectivos - os que são efectivamente importantes para a flexibilidade e reestruturação do tecido empresarial - relativamente fáceis (até há pouco tempo, talvez caros, mas fáceis), que terá Mario Draghi a dizer sobre o assunto? Provavelmente, como uma mentira mil vezes repetida tende a tornar-se em verdade absoluta, acha que o mercado de trabalho é rígido e que esse é o problema fundamental que está na base dos 15% de desemprego em Portugal. Sobre este assunto, para Mario Draghi não perder muito tempo, aconselho-o a ler o que diz Luciano Amaral (um homem de direita) sobre o assunto no pequeno livro de divulgação sobre a economia portuguesa que escreveu para a Fundação Francisco Manuel dos Santos.
No fundo, Draghi faz-me lembrar aquele aprendiz de cientista que resolveu arrancar as asas a uma mosca e depois lhe ordenou mil vezes que voasse. Como, claro, a pobre mosca se recusava a obedecer, o nosso cientista-aprendiz logo concluiu: "mosca sem asas não ouve". Pois...

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