quarta-feira, setembro 21, 2011

A entrevista de Pedro Passos Coelho: as dúvidas (2)

2. Ok, a ligação entre Lisboa e Madrid através do comboio de alta velocidade parece ser para o governo actual não apenas uma questão de oportunidade mas também estratégica: é contra e ponto final. Certo, é uma opção, embora eu não esteja muito bem a ver como num mercado ibérico cada vez mais integrado Portugal possa ser a única região da Península a ficar de fora da rede ibérica de alta velocidade. Idem para as zonas da Grande Lisboa e Região Urbana de Madrid onde viverão, por junto, bem mais de 5M de ibéricos. Também não percebo muito bem como se pode discutir este assunto sem ter em conta a estratégia em termos de transporte aéreo, incluindo aeroportos, principalmente agora que se avizinha a privatização da TAP. Mas muito bem, passemos adiante e consideremos isso "são outros quinhentos": não vamos ter um comboio a 350 km/hora mas um a 250 em bitola" europeia. E para mercadorias (ou para mercadorias e passageiros? - fiquei com dúvidas). Primeira questão e falando de passageiros: se o TGV dos 350 km/h pode ser competitivo com o avião (se o for...) isso também é válido para um comboio que ande a 250? Parece-me difícil... E em Espanha andará pela linha do TGV? A 250 ou a 350? Os comboios portugueses a 250 e os espanhóis a 350? Ou teremos que mudar em Badajoz? Ok, esqueçamos os passageiros e vamos metê-los no avião. Mercadorias em "bitola" europeia. Pergunta lógica: é preciso que a Espanha vá convertendo a sua rede para tal (e, já agora, Portugal também, para não ficar só com uma linha diferente de todas as outras). Ora está já algo decidido e coordenado com Espanha? Ou o comboio de mercadorias em "bitola" europeia chega a Espanha e vai andar sobre o quê? Na linha do TGV dos tais 350km/h para passageiros ou descarrega para camiões? Como vamos atrair mercadorias para os nossos portos e torná-los mais competitivos para ajudar a rentabilizar tal linha? Muito bem, o que eu gostaria de ver era, da parte do governo, uma estratégia de transportes (passageiros e carga) e logística para Portugal tendo em atenção a sua localização geográfica e inserções ibérica e europeia. Boa ou má (e eu tinha algumas discordâncias), o anterior governo tinha uma, que envolvia uma plataforma logística, um hub aeroportuário e um comboio de alta velocidade. E este governo? Por enquanto, parece-me ter apenas uma enorme confusão e uma tentativa de salvar a face. Espero a resolva depressa, de preferência bem. Salvando ou não a face, pouco me importa. O que não quero mesmo é que apenas para a salvar nos meta no imbróglio de uma péssima solução. 

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