quarta-feira, junho 29, 2011

Para que servem os programas de governo?

Neste "post" de ontem comentei como o uso e abuso, propositado, de palavras como "avaliar", "reavaliar", "oportunamente", "eventual", "suspender", etc, nos programas de governo (o deste último está longe de ser caso virgem), bem como o enunciado sistemático de intenções mais ou menos vagas, por vezes até contraditórias, abrem caminho para (quase) tudo. Depois disso, resolvi-me por um "tweet" perguntando o que se entendia exactamente por "suspender"; se tal seria por um dia, uma semana, um mês, um ano ou sine die, já que me parecia absolutamente necessário, no caso da suspensão e reavaliação de um qualquer projecto, que se indicasse um prazo, uma data para decisão definitiva. Sem tais indicações, mais uma vez se abre a porta para quase tudo, já que se torna praticamente impossível ir avaliando do seu cumprimento. Inclusivamente, comparei o modo como está estruturado o programa do actual governo (que não difere muito dos anteriores) com o MoU, onde, e muito bem, se definem prazos, apontam "deadlines" e quantificam medidas para que, aqui sim, se possa ir avaliando do rigor com que está a ser implementado, de modo a efectuar eventuais correcções que se venham a revelar necessárias.

Pergunta-se, então e em função disto, para que servem os programas de governo? Fundamentalmente, e em graus diferentes e consoante as circunstâncias, para marcar terreno ideológico e para efeitos propagandísticos, conseguindo deste modo cativar uma "vanguarda de apoio" (digamos assim) e conquistar ou ampliar o chamado "estado de graça". No caso presente, o do programa do actual governo, um "mix" (para usar uma expressão cara a Eduardo Catroga) de ambas as dimensões está bem evidente: suficientemente ideológico para agradar à sua vanguarda ultra-liberal (mas convenientemente vago, hélas, por dever de realismo político) e populista quanto baste (mas sem demasiados compromissos) para agradar ao tablóidismo comunicacional, conquistando a sua confiança nos próximos tempos. Digamos que em função disto, é inteligente e cumpre bem os objectivos, o que pouco ou nada terá que ver com a sua execução futura.

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