segunda-feira, junho 06, 2011

As eleições no "day after": 5 pontos 5

  1. Qual a posição que o PS irá assumir na oposição, entre dois modelos teóricos muito distanciados entre si?: uma obstrução sistemática ao governo, não permitindo que PCP e BE capitalizem o descontentamento pelos tempos difíceis que aí vêm, ou uma certa neutralidade mais ou menos colaborante, fazendo crescer os partidos da esquerda radical? Bom, penso que, tendo assinado o MoU, não está o PS em situação de grandes radicalismos face à medidas nele contidas (nem o deve estar), mas a posição global do partido irá forçosamente depender muito da atitude do novo governo: se este colocar o seu foco no cumprimento integral do acordo de resgate e se deixar de ideias abstrusas como aquela de pôr os beneficiários de transferências sociais a limpar as matas e tratar dos "velhinhos", bem como de reduzir o número de deputados, transformar a Segurança Social num modelo assistencialista e o SNS numa "coisa em forma de assim", privatizar a CGD (aqui o CDS poderá ser um travão) e despedir "porque sim", não restará demasiado espaço ao PS. Caso contrário, se, no governo, o bom-senso reformista ceder lugar ao radicalismo ideológico ultra-liberal, o PS ficará bem mais livre para uma oposição mais radical. Não esquecer, contudo, que a construção a prazo de uma indispensável alternativa de centro-esquerda exige do PS autonomia face ao novo poder.
  2. Curioso de ver a evolução da "media scene", nos últimos tempos dominada pela política editorial dos "casos", pelo pessimismo "plano-inclinadista" e por algum radicalismo ultra-liberal. Há, entre jornalista a afins, quem agora vá começar a olhar em volta sem saber muito bem o que fazer da "vidinha".
  3. Mas alguém pensava que Francisco Louçã se iria demitir depois do resultado desastroso do BE? É não entender os modelos de funcionamento dos partidos revolucionários, marxistas-leninistas (e o BE é, na sua essência, um partido marxista-leninista), em que as eleições "burguesas" são apenas mais um terreno de luta e essencialmente "contra-natura". Daniel Oliveira, que considero um democrata sincero (radical, mas democrata) e ontem manifestava a necessidade de ser convocada uma "Convenção" (acho se chama assim), enganou-se no partido. Um dia, que espero seja breve, chegará a essa conclusão.
  4. O discurso final de Pedro Passos Coelho pareceu-me um pouco atrapalhado, do género "e agora, que faço eu com esta vitória que os portugueses me deram?" Espero rapidamente alguém o ajude a retomar a boa forma patenteada no debate com José Sócrates e que este último parece ter recuperado com um excelente discurso de resignação ontem à noite. O país precisa de um primeiro-ministro mais confiante do que demonstrou na campanha e no discurso de vitória.
  5. "Uma maioria, um governo um presidente"? Sim, claro, objectivo alcançado pela direita. Mas convém não esquecer que os poderes do Presidente da República são agora muito diferentes, e bem menores, do que o eram nos anos 70 do século passado, quando Francisco Sá Carneiro definiu esse objectivo, pelo que a frase perdeu alguma força e conteúdo programático.

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