domingo, março 13, 2011

O que nos disse a "manif." da "geração à rasca"

Fundamentalmente, que nos disse a manifestação da “geração à rasca”? Nada que já não soubéssemos: que existe uma base social de apoio a uma solução política populista e anti-democrática para Portugal. Trata-se um grupo inorgânico e heterogéneo, até contraditório entre os seus elementos, mas que encontra num exacerbado sentimento anti-políticos e anti- partidos, no radicalismo anti-regime, em algum primitivismo basista “popular” filho do PRP-BR de antanho, o seu cimento ideológico. E no desemprego e na precariedade, na ilusão de que um qualquer licenciado “mestre” em “Estudos para a Paz” (não, não é piada, é a especialização de uma das organizadoras da “manif”.) teria, por promessa explicita ou implícita de governantes com responsabilidades, o passaporte para um emprego estável e uma vida com algum desafogo. Constituem-no, em traços gerais, abstencionistas e votantes em branco, muitos dos que dirigem e votam no “Bloco de Esquerda” (menos do PCP), herdeiros da esquerda radical do PREC, mesmo que convertidos a um ultra-liberalismo recente e mal amanhado, nacionalistas radicais e vários crentes nas virtudes de um difuso messianismo político, do “isto está cada vez pior; já só lá vai quando for o povo a mandar e correr com esses políticos corruptos”. Exprimiam-se, até agora, nas caixas de comentários dos “blogues” e dos jornais electrónicos, nos “fóruns de opinião”, e viam esse seu sentimento catalisado por programas como o “Plano Inclinado”, políticos com discursos irresponsáveis e incendiários como os de Francisco Louçã ou o de Cavaco Silva na passada 4ª feira e por jornalistas e uma comunicação social que abdicaram das suas funções numa infrutífera, mas desesperada, tentativa de inverter o decréscimo de vendas originado pelos suportes electrónicos.

Conclusão? Razão tinha Mário Soares quando se decidiu pela rápida adesão do país à então CEE, que, se não nos salva (não tenhamos ilusões), nos põe pelo menos a algum recato de soluções anti-democráticas. Só isso seria razão mais do que suficiente para lhe estarmos gratos. Muito obrigado, Dr. Mário Soares!

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