quinta-feira, novembro 25, 2010

SLB: as razões visíveis para uma derrota. Existirão outras?

Quando as causas para os maus resultados desportivos de uma equipa não são demasiado óbvias olhando apenas questões técnico-tácticas, o jornalismo desportivo aqui da paróquia costuma atribuir as responsabilidades à “falta de empenho”, de “vontade de ganhar”, a “divisões no balneário”, “jogadores contra o treinador”, etc, etc. No caso do meu clube, como não tenho informações privilegiadas, pelo menos totalmente fidedignas, e embora não possa negar tudo o que acabei de citar (eu, pelo menos, estou farto das asneiras de Jorge Jesus desde a pré-época – das hesitações, erros na constituição da equipa, contratações questionáveis e fanfarronices ridículas - ; os jogadores não sei mas cair no ridículo não é a melhor forma de liderar), prefiro olhar para dentro de campo e, daquilo que me é dado ver, tentar perceber o que pode estar na base das derrotas. Melhor ou pior, nunca tendo sido treinador nem jogador que passasse do “muda aos cinco e acaba aos dez” ou pouco mais, tenho tentado fazê-lo aqui no “blog”, e por várias vezes foquei os problemas que podem estar na origem das más prestações do meu clube. Por isso, vamos agora apenas ao jogo de ontem.

  1. Como afirmei no “twitter” antes do jogo, a equipa apresentou-se de início defensivamente desequilibrada, com os equilíbrios defensivos apenas assegurados por Javi Garcia. Ok, mostrou o desenrolar do jogo que não foi por aí que o perdeu, ao contrário do que aconteceu em Lyon, porque o Hapoel é fraca equipa. Pelo menos aparentemente, claro, porque talvez não tenha sido tanto assim. Veremos mais à frente.
  2. Sálvio, Saviola, Aimar e Gaitán são jogadores demasiado iguais. Todos eles de fraco poder físico-atlético, tecnicamente evoluídos (ou habilidosos), mas com pouca simplicidade de processos, pouco “rompedores”, demasiado viciados nas “tabelas” e num futebol vistoso mas nem sempre prático e muito menos directo. Por isso, ontem o SL teve bola, comandou o jogo, mas não conseguiu mais de 3 ou 4 oportunidades. O número de cantos conseguidos é sinónimo disso mesmo: muita bola no último terço do campo, mas incapacidade de romper para o golo e desacerto técnico de Kardec quando teve oportunidade de rematar. Também por isso, continuo a pensar que neste Benfica o lugar de Coentrão, alguém com um futebol mais linear, só pode ser lá na frente.
  3. Pelo que acima digo, incompreensível a ausência de Carlos Martins, um jogador com maior capacidade físico-atlética e de remate, maior poder de choque e maior simplicidade de processos. Exceptuando os jogadores de área (Cardozo e Kaedec),o que mais contrasta com o quarteto que citei. Aliás, um dos segredos da melhoria de prestações da selecção portuguesa foi mesmo a substituição de Deco por Martins, que contribuiu para dar ao jogo maior fluidez e aumentar a velocidade das transições e intensidade competitiva.
  4. Resta o modo como sofreu os golos. Descontemos o terceiro, sofrido quando a equipa já estava defensivamente descompensada procurando o ataque de qualquer maneira. Dois golos de bola parada? Bom, como não assisto aos treinos e parto do princípio estar perante gente minimamente competente, só posso admitir a causa não seja técnica mas atribuível a falta de concentração competitiva. Porquê? Independentemente da baixa de forma de David Luiz (ontem fez mais um jogo deprimente), o que me parece é que a equipa está de tal modo formatada para atacar (e aqui volto ao ponto 1), viciada nos aspectos ofensivos do jogo, que se sente mentalmente desconfortável quando é pressionada e tem de defender, quase como se isso fosse algo contra-natura. Exactamente como alguém que é obrigado a cumprir uma função de que não gosta e, por isso, a despacha o mais rapidamente possível sem grandes preocupações de rigor e qualidade.

Fico-me por aqui. Talvez não chegue para explicar como se perde por 3-0 contra uma medíocre equipa israelita, mas acho posso ter dado alguma contribuição.

8 comentários:

Karocha disse...

Não vi o jogo JC!
Tudo o que tenho lido, incluindo o António Boronha, é unânime,foi uma vergonha.

gin-tonic disse...

Dizem-me que para rescindir com Jorge Jesus são necessários 5 milhões de euros, que, aparentemente o Benfica não tem. Contudo, é fácil perceber que a continuação de Jesus custará, no futuro, mais de 5 milhões de euros.
Não é o treinador o único culpado da situação. Pese embora que é nele que residem as culpas maiores que, por sinal, começaram no dia em que se permitiu “despedir” , em directo pela televisão, no “Trio de Ataque”, o Quim. Se a Direcção fosse constituída por gente que se lava todos os dias, logo naquele momento lhe deviam ter feito guia de marcha.
As aquisições, a preparação da nova época, foram um autêntico desastre.
Se a tudo isto juntarmos o espírito mercenário dos jogadores, teremos os ingredientes necessários para o péssimo molho que deu cabo da caldeirada.
Os jogadores de futebol quando querem embrulhar um treinador, conseguem-no.
Veja-se o caso da Selecção nacional: Carlos Queiroz não era flor que se cheirasse, mas ninguém acredita que Paulo Bento com meia dúzia de treinos tenha dado a volta ao texto sem que para aí os jogadores estivessem virados. É aqui que reside o busílis da questão.
Os 5 milhões de euros dispendidos agora, se houver onde os ir buscar…evitarão maiores prejuízos, quiçá irrecuperáveis.

JC disse...

Apenas não concordo contigo na questão do mercenarismo dos jogadores. São profissionais, não gostam de perder e se "fazem a cama" ao treinador é pq sentem problemas de liderança. Foi assim c/ Queiroz e agora a selecção ganha: os jogadores tinham razão.Quanto ao "despedimento" do Quim via TV, apenas um reparo: a direção não tinha na altura força para despedir JJ por esta razão. Mas poderia bem ter agido de modo a precaver esse tipo de atitudes por parte do treinador. Esse o seu grande erro, já que o assunto Quim deveria ter sido tratado atempadamente.

pois disse...

e começam voçês:

Despedir Quim pela TV?

Os Srs. assistiram ao programa e ouviram o que disse JJ na altura?
Provavelmente não.
O que ele disse foi que Quim já sabia qual a ideia de JJ em relação a ele. O resto foi invenção e deturpação jornalistica

JC disse...

Mesmo que isso corresponda à verdade, é uma deselegância e incorrecto em termos de liderança ser o próprio treinador a anunciá-lo, e em 1ª mão, via TV.

Anónimo disse...

Caros

Simplifiquemos o processo.
Se o despedimento do JJ custa 5 milhões de euros, porque não despedi-lo e a indemnização seria o Roberto (que "vale" 8 milhões) para ele vender e fazer alguma mais valia ?
Ser treinador é acima de tudo saber gerir (recursos) humanos, e no caso do futebol trata-se de recursos onde proliferam o vedetismo, egoismo, mercenerismo, intelectualidade negativa, vaidade. O bom treinador é o que consegue criai um grupo (e espirito de grupo). As tácticas são "pormenor" e aprendem-se nos livros e hoje com meia dúzia de pesquisas na net a informação (da táctica) está acessivel ao comum dos mortais.
A diferença reside na liderança.
É aí que o Moirinho faz a diferença. Depois...pode vir a arrogância.
Falta de liderança forte a todos os niveis, demasiados interesses pessoais é o que aparenta ser actualmente, e infelizmente mais uma vez, o problema do glorioso.

Cumprimentos

Anónimo disse...

Adicionando os milhões do passivo acumulado por tantas aquisições ao longo dos últimos anos, aos milhões investidos esta época em jogadores que teimam em não mostrar equivalente valia, e milhões a gastar com eventuais resoluções de contratos, e tendo em conta que uma eliminação precoce da Champions e um campeonato medíocre não geram grandes retornos, é difícil augurar algo de bom, sendo antes mais provável um descalabro geral, já que as vendas de jogadores entretanto efectuadas e as receitas do clube serão manifestamente insuficientes para cobrir uma boa parte do passivo.

O primeiro sintoma dum descalabro anunciado, será a venda dos jogadores mais valiosos, também incapazes de gerar grandes retornos em tempos de preocupante crise, o que causaria o "downgrade" competitivo do clube para posição não europeia,coisa que até já aconteceu num passado recente, também a primeira vez desde que o SLB participa em competições da UEFA.

O segundo sintoma do descalabro, será uma demissão calculada dos dirigentes, aproveitando um qualquer momento conturbado do clube sob a pressão do inconformismo dos adeptos, responsabilizando estes ( da mesma maneira como os proibiram de assistir aos jogos fora ou culparam a arbitragem dos desaires).

O terceiro e fatal sintoma será uma futura Direcção vir a constatar que a situação financeira do clube é ainda pior que o esperado, ditando a insolvência do clube, sendo difícil um banco arriscar a suprir um balão de oxigénio momentâneo na actual circunstância.

Teríamos então um SLB com o mesmo destino do também recente campeão nacional Boavista, arrastando consigo todo o futebol português que qualitativamente ficaria cingido à Selecção Nacional.

O mesmo serve "mutatis mutandis" para o SCP. O FCP acabaria também decair em função de um campeonato pouco competitivo o que lhe traria redobrados problemas.

Oxalá isto fosse apenas um "momentary lapse of reason" ditado pela ressaca do "Kibbutz" futebolístico com certificação "Kosher", elevando as minhas preces e coração ao alto para que tal não aconteça.

JR

JC disse...

Apenas um comentário: calma e bom senso em situações como esta são desejáveis.