domingo, maio 23, 2010

C. L. final: notas breves no "aftermath"

  1. Se Deus existisse, fosse um computador e criasse equipas de futebol à sua imagem e semelhança, estas seriam as equipas de José Mourinho. Tudo é perfeito, está previsto e não falha: os intérpretes ligados como elementos de uma estrutura coerente. Claro que não é o “ballet” de Pep Guardiola, uma sinfonia de Mozart ou uma área das “Bodas de Fígaro” que fica no nosso ouvido; é algo mais aproximado ao drama Wagneriano e que, portanto, exige ao espectador uma entrega e concentração totais; a abstracção de um mundo, durante uma horas, para que se possa dar entrada num outro. Quem não o consegue fazer acha o espectáculo enfadonho e retira-se ao fim dos primeiros dez minutos; os outros entram num reino que é pertença do divino. Depois de FCP, Chelsea e Inter, no Real Madrid José Mourinho, qual Richard Wagner, prepara a quarta parte do seu “Anel”, da sua tetralogia.
  2. Milito, com a sua técnica, flexibilidade e também poder atlético, nas doses certas, fez o que quis de dois centrais com um futebol estilo “estivador”. Ainda por cima, Sneijder, Pandev e Eto’o insistiam, de vez em quando, em aparecer por ali. A “rabeta” de Milito a Van Buyten, no segundo golo, entra para a História das finais da Champions League. Foi penoso.
  3. No seu percurso, Mourinho foi sempre passando, duradouramente, por clubes com uma característica comum: gestão centrada, e centralizada, em presidentes “todo-poderosos” (Pinto da Costa, Abramovich, Moratti e, no futuro, Florentino Perez). Nos três últimos casos, estamos também perante clubes que tinham, ou têm, andado arredados das grandes vitórias, ou nunca as tiveram (Chelsea). Ser criterioso ou estar em posição de poder escolher os projectos que melhor se adaptam a cada um também constitui um valioso activo.
  4. Cambiasso e Zanetti fora da selecção? Custa a crer, embora reconheça que, em termos puramente individuais, a Argentina bate aos pontos toda a concorrência (sim, mesmo o Brasil!). Para equilibrar as coisas, talvez tenha o pior dos 32 treinadores. Sim, claro, o Maradona jogador – confesso – nunca foi a minha “chávena de chá”, muito menos o Maradona “tudo o resto”.
  5. Um jogador que me custa ver: Schweinsteiger. Lembro-me de o ver despontar num Torneio de Toulon e ver nele um desequilibrador nato, um jogador capaz de fazer a diferença no futebol alemão e internacional. Penso que foi chamado à selecção principal ainda nesse mesmo ano, acho que 2004 no Europeu disputado em Portugal. Que é feito “desse” Schweinsteiger?
  6. Gomez? Klose? Onde estão os grandes goleadores do futebol alemão, ao nível de um Uwe Seeler, Gerd Müller, Fritz Walter, Klinsmann? Para o Mundial de 2010 a Mannschaft, nos 30 pré-convocados, e para além daqueles dois, recorreu a um tal Claudemir Jerónimo Barreto, aka “Cacau”...
  7. O MVP da final? José Mourinho, pois claro. Oh, desculpem, enganei-me. Um tal Diego Milito, não foi?
  8. Júlio César. Só se dá por ele quando é preciso e, como o Inter defende melhor do que bem, é preciso poucas vezes. Mas quando é... sabe-se que não existem grandes preocupações. Já agora, do outro lado Hans-Jorg Butt foi suplente do “meu” SLB. Não será fantástico, mas quando olho pelos que têm por lá passado como titulares...
  9. Principal conclusão desta Champions League: bola? Ter a bola? Mas para que raio serve tal coisa?
  10. Terminar com José Mourinho, pois claro. Dizendo que o português é, finalmente, a quase impossível síntese entre dois dos mais notáveis generais da WWII: o carisma, a ousadia, o "panache" e o sentido de liderança de George Patton e a competência, capacidade de trabalho e sentido da responsabilidade de Omar Bradley.

2 comentários:

pois disse...

JC,

Já deve conhecer, mas Mourinho - o técnico é mais ou menos isto, sem dúvida

http://www.aventar.eu/2010/04/28/discurso-de-mourinho-aos-jogadores-do-inter/

JC disse...

Pois, mas são campeões europeus!...