quarta-feira, fevereiro 17, 2010

Porque não funciona a estratégia do PSD? (2)

Bom, a primeira questão a colocar quando se analisam as razões da falta de eficácia da actual estratégia do PSD será: corresponderá essas estratégia, aquilo que ela propõe, às aspirações da maioria dos portugueses? Sentirão estes as actuais propostas do PSD como sendo suas? Vejamos...

De cada vez que se interrogam os portugueses sobre as questões que mais os preocupam e mobilizam, invariavelmente e se a memória me não atraiçoa, as respostas andam à volta de “desemprego” (ou “emprego”, o que é a mesma coisa), “saúde”, “segurança” (com o duplo significado de estabilidade – reforma, garantia salarial, etc - e segurança da sua vida e dos seus bens), “custo de vida”, etc. Com razão ou sem ela, são estas as respostas dos eleitores, do “mercado”. Ora a primeira questão a colocar ao PSD será pois: que resposta dá a sua actual estratégia da “asfixia democrática” e da “verdade” a estas questões, ao mercado eleitoral? De que modo elas são, nesta estratégia, visivelmente abordadas e quais as soluções credíveis apresentadas? Vai o actual “produto” PSD ao encontro das necessidades dos consumidores/eleitores? A conclusão não poderá deixar de ser que, de modo claro e visível, as respostas a estas questões são claramente subalternizadas nesta sua actual estratégia. Isto não significa, claro está, que estejam ausentes do manifesto eleitoral do partido, mas que, quando se pergunta, actualmente, a um eleitor informado qual o posicionamento do PSD, qual a plataforma pela qual o partido responde (stands for), muito provavelmente a resposta expontânea arrisca-se a ser, demasiadas vezes, “verdade” e “liberdade de informação”, algo que está longe de constituir (embora eu possa acrescentar, infelizmente - mas isso não vem ao caso) preocupação fundamental dos portugueses. Esta é – penso – a questão-chave, da qual derivam todas as outras, como tal a merecer, portanto, atenção redobrada por parte de militantes e dirigentes do partido. No entanto, dela derivam algumas outras, secundárias mas igualmente relevantes e que analisarei de seguida:
  1. A manutenção dos níveis de popularidade do primeiro-ministro mostra que questões de carácter não são assim tão importantes na decisão dos eleitores, principalmente se não tiver sido constituído arguido ou formalmente indiciado ou acusado. Aparentemente (repito: aparentemente), a proliferação de títulos, opiniões expressas por líderes de opinião em debates e pelos eleitores em fóruns e caixas de comentários não se reflecte significativamente em termos de intenções de voto. Diferentemente parece acontecer com o Presidente da República, visto quase como um pater familiae, alguém acima das questiúnculas terrenas e cuja actuação, honestidade e ética devem estar ao abrigo de qualquer suspeita: quando do “caso” das alegadas escutas a Belém, a sua “popularidade” e o número de apreciações positivas decresceu significativamente.
  2. Os portugueses não sentem que a liberdade de informação esteja seriamente ameaçada ou, eventualmente, são de opinião que o PSD não tem total credibilidade para ser o seu defensor por excelência. Neste campo, a questão da Madeira poderá ter algum peso, bem com o perfil público de alguns das personalidades que mais se têm vindo a manifestar e o modo demasiado ostensivo como o têm feito: Manuela Moura Guedes e Mário Crespo, por exemplo, estarão muito longe de ser consensuais. José Manuel Fernandes é o exemplo contrário: mais inteligente, tem mantido um low profile bem mais adequado. Por outro lado, uma personalidade ubíqua como José Pacheco Pereira dificilmente pode alegar falta de liberdade de informação, protagonizando uma estratégia deste tipo.
  3. Não excluindo parcialmente nenhum dos pontos acima, os portugueses interpretam a estratégia actual do PSD e o perfil de alguns dos líderes de opinião que lhe dão substância (os já citados e ainda Medina Carreira, Villaverde Cabral e outros), fundamentalmente, como uma estratégia de protesto (contra o “sistema” e os “políticos”) e não de poder, conduzida por personalidades com um perfil contestatário, e, por isso, preferem dar o seu voto a partidos que estão fora do “arco da governação” (PCP e BE) ou, no seu exercício, têm tido menores responsabilidades não integrando o chamado “bloco central de interesses” (CDS).
  4. A contínuo aparecimento e proliferação nos “media” de alegados escândalos, de natureza muito diversa entre si, envolvendo José Sócrates, e o modo como são apresentados e perfil de algumas das personalidades envolvidas, acabam, qual história dos lobos, por ter um efeito contrário ao pretendido, perdendo os factos credibilidade perante muitos dos portugueses e acabando o réu por se transformar em vítima. Mesmo em casos em que o crime foi provado, o mundo está cheio de histórias, personagens e casos semelhantes.
  5. Por último, uma interrogação: pode uma estratégia deste tipo, um pouco anti-sistema, de combate, de contestação mais do que de alternativa de poder, ser protagonizado por alguém com imagem e ideologia demasiado conservadoras e antiquadas? Note-se que reaccionarismo e conservadorismo, podendo por vezes aliar-se ou coligar-se, são coisas bem distintas... Pode ser que Rangel, com uma imagem que me parece bem mais reaccionária do que apenas conservadora, mais próxima de Pacheco Pereira do que de Ferreira Leite, possa tornar esta estratégia um pouco mais plausível. Mas atenção: o que fundamentalmente está errado não é a forma, mas o conteúdo.

Conclusão: muito trabalho de casa para a próxima direcção, portanto.

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