quarta-feira, fevereiro 24, 2010

Duas notas sobre a catástrofe madeirense

  1. O luto e o respeito por todos aqueles que sofreram e sofrem as consequências da catástrofe madeirense não pode significar o silêncio sobre as razões que poderão ter contribuído para tornar as suas consequências mais gravosas. Antes pelo contrário: o respeito pelos madeirenses e pelo seu futuro exige que se enterre a hipocrisia e se critique e altere aquilo que eventualmente possa ter contribuído para tal. Sebastião de Carvalho e Melo, o exemplo do déspota iluminado, enterrou os mortos e cuidou das necessidades imediatas dos vivos; mas também tratou de transformar um burgo medieval numa cidade moderna e mais apta a enfrentar os elementos. E, já agora, estamos (acho) bem longe do despotismo, ainda mais de qualquer um que possa contribuir para nos iluminar o caminho.
  2. Ainda hoje se desconhece o número exacto de mortos causado pelas cheias de 1967 na região de Lisboa: vivia-se em ditadura e o regime estava bem longe de querer que os portugueses se apercebessem da dimensão do desastre. O que sabíamos era apenas o que era “visado pela censura” ou ”soprado” pelos muitos cidadãos (na altura, ainda súbditos) e organizações, muitas delas ligadas aos sectores mais progressivos da Igreja Católica, que se dispuseram a ser solidários. Hoje em dia, vivemos em democracia; mesmo na Região Autónoma da Madeira e apesar dos “percalços” locais. Gostaria muito de concluir ser isso o suficiente para que a desinformação de 1967 se não repita.

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