domingo, janeiro 31, 2010

Manuel Alegre: a sua posição enquanto "challenger" e a estratégia de Cavaco Silva

Um dos problemas mais sérios que uma mais do que provável candidatura de Manuel Alegre terá que enfrentar é que, partindo de uma posição de “challenger”, isto é, apresentando-se contra o Presidente da República em funções, aparecerá necessariamente aos olhos dos eleitores como portador de uma ideia, uma mensagem, de “divisão”, de “ruptura”, enquanto Cavaco Silva se apresentará como uma "natural" candidatura de unidade entre todos os portugueses, conceito que estes associam facilmente ao cargo em questão independentemente de quem o exerce. Acresce que Cavaco Silva terá pela frente um ano para continuar a fazer desse apelo de unidade em período de crise, começado com as negociações sobre o orçamento (aos olhos dos portugueses, e com razão, uma sua indiscutível vitória), o “leit motiv” do exercício das suas funções, algo que esses mesmos portugueses, em termos abstractos e mais ainda na problemática situação económica e governativa actual (governo minoritário) sempre apreciam bem mais do que a autonomia partidária e a saudável luta democrática. Com esse objectivo não deixará Cavaco Silva de recorrer a uma excessiva dramatização e dose q.b de pessimismo quando isso se revelar necessário (o discurso de Ano Novo, a audiência a João Salgueiro e as declarações deste no final foram apenas o primeiro passo), não desdenhando mesmo algumas encenações de carácter mais solene no qual a próxima reunião do Conselho de Estado manifestamente se integra.

Nota: Cavaco Silva nunca conseguiu muito mais do que a metade (50%) dos votos expressos, quer como candidato a P. R., a primeiro-ministro ou à renovação da sua maioria enquanto chefe do governo em funções. Certo. Mas Cavaco Silva nunca foi a votos partindo da muito favorável posição de P. R. em funções, o que pode mudar muito as coisas. Fica o aviso aos mais optimistas apoiantes de Alegre.

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