quinta-feira, setembro 24, 2009

Sondagens, tendências e dinâmica

Como se tem dito repetidamente, as sondagens são uma fotografia, algo que espelha uma realidade num dado momento (o da realização do trabalho de campo) partindo do princípio as pessoas não mentem (ou não o fazem em quantidade significativa). Por isso mesmo, tão ou mais importante do que analisar isoladamente cada uma delas, é fundamental analisar a tendência que mostram ao longo de um determinado período de tempo.

Assim sendo, o que mostram as últimas sondagens da Marktest e, a crer no que se ouve, um pouco todas as outras? Fundamentalmente, e ao contrário do que aconteceu nos últimos dias da campanha para as europeias em que a evolução favorecia o PSD, uma tendência para o crescimento da votação no PS, que assim aparece mais destacado. E porque é assim tão importante esta análise em termos dinâmicos? Porque, existindo um hiato temporal entre a data da realização do trabalho de campo das sondagens e o dia das eleições, ela permite ter uma ideia mais clara ou um maior grau de certeza sobre quais poderão ser os resultados do próximo domingo.

Significa isto que essa tendência continuará a acentuar-se até domingo e que o PS ganhará de certeza as eleições sendo impossível ao PSD inverter a situação? Não necessariamente: a tendência poderá acentuar-se, sofrer algum abrandamento, parar ou até inverter-se muito ligeiramente. Mas o que a dinâmica mostra é que, uma vez criada uma certa inércia de movimento, apenas um ou mais acontecimentos de carácter absolutamente excepcional a poderão inverter de modo significativo. É exactamente este racional que está na base dos apelos vindos de algumas personalidades do PSD para que o Presidente da República se pronuncie em seu favor.

8 comentários:

Rato disse...

Bem observado, caro JC, esse conceito da "dinâmica". Aliás, se não fosse assim, as sondagens não teriam razão de existir, não é?

gin-tonic disse...

Não domino, de modo algum, esta história das sondageens. Hão-de ter o seu interesse - mais não seja para meia dúzia ganhar uns tostões - mas sempre tive a sensação de que é um modo de baralhar gente já de si muito baralhada e a não ligar puto a nada.
Acho curiosa esta opinião de Vitor Dias, um tipo completamente suspeito: "Eu sei que é pregar no deserto mas, numa sondagem em que há 37% de inquiridos que se declaram indecisos (para já não falar na margem de erro de 3,1%), isso significa que não houve nenhuns 40% de inquiridos a escolher o PS mas sim 28%.Pôr a falar e a escolher um tão grande número de inquiridos que realmente não falou nem escolheu pode não dar resultados fiáveis.

Rui disse...

Eu volto à carga, porque sou teimoso nas minhas convicções:

"O histórico Miguel Veiga, apoiante de primeira hora de Manuela Ferreira Leite, veio ontem juntar-se a Pacheco Pereira na exigência de que Cavaco Silva explique o que se passou no 'caso das escutas', que levou à demissão do seu assessor Fernando Lima. Isto enquanto Bloco de Esquerda e PCP continuam a exigir esclarecimentos do Presidente da República." ( In Diário de Noticias)

Ou seja, todos querem que o PR fale, à excepção do partido da sua simpatia e do CDS. Claro que pode ser por aproveitamento politico, mas, o direito a que temos de saber já a verdade, deveria suplantar, sobretudo depois da demissão de FL, o seu receio de que tal acto beneficia este ou aquele partido. Não se esqueça que a demissão de FL foi um enorme bonus para o Sr, Socrates.Ou não?

Por isso insisto: O silencio do Sr.ACS é intoleravel!

JC disse...

Rato: teriam, mas seriam apenas a foto do momento. Como o trabalho de campo das últimas se efectua cerca de 1 semana antes das eleições, seria a foto desse momento. Por exemplo, foi o facto de não se ter entrado em conta c/ essa dinâmica que vinha a demonstrar uma crescente aproximação do PSOE ao PP que deu origem à surpresa das legislativas de 1004 em Espanha. Aqui, a forma canhestra como o PP lidou c/ o atentado de 11 de Março acabou por acelerar esse processo já em curso. O mesmo aconteceu aqui nas últimas europeias. O aproximação do PSD ao PS já vinha de rrás e até a última sondagem da Marktest já dava a vitória ao PSD.

Gin-Tonic: As empresas de sondagens e estudos de mercado mais importantes, nas quais se incluem as que trabalham em Portugal na área política, são sérias. Todo o trabalho é baseado em modelos matemáticos e as metodologias são periodicamente testadas. Se as pessoas mentem (menos comum quando se usa o método de voto em urna) nada a fazer. Tb é mais díficil o rigor quando, como nas últimas europeias ou no 1º referendo da IVG, a abstenção é mtº elevada. Respondendo à tua pergunta: em eleições, a percentagem de votantes em cada partido ou candidato é sempre sobre os votos expressos, não contando por isso a abstenção. Por isso mesmo, há sempre que distribuir esses indecisos pelos partidos, brancos e nulos, de acordo c/ uma metodologia previamente estabelecida, por exemplo, em função do grau de certeza na votação no partido indicado dado por cada pessoa interrogada. Sugiro acompanhes o blog do Pedro Magalhães, director do CESOP: http://margensdeerro.blogspot.com/

Rui: já disse que a demissão de Fernando Lima foi um enorme bónus para o PS. Mas a palavra de ACS não faz fé. Por isso, ou tem provas concretas e inequívocas do que quer que seja ou é melhor estar calado e entregar o caso à PGR.

Rui disse...

Você é teimoso, mas eu sou mais: O homem tem que falar. Deve isso aos portugueses. ACS disse que tinha coisas para dizer. Então que diga agora. Sobretudo depois de aparentemente ter querido favorecer o PSD e ter acabado por o prejudicar. Mas, afinal de que é que você tem receio? Se o Sr. tem verdades para revelar tanto melhor. Mas se não tem e tudo foi bluf, então o partido em que você vai votar corria o risco da maioria absoluta . Francamente JC ajuste os seus temores.

JC disse...

Nada disso. Sou o 1º a dizer que se tem provas inequívocas do que quer que seja que fale. Favoreça ou prejudique quem quer que seja. Nunca votaria num partido que andasse a escutar outros orgãos de soberania. Mas se não tem só vai prejudicar ainda mais a Presidência da República, ao envolvê-la mais no caso. Se tem dúvidas, entregue o caso à PGR. Como vê, quero lá saber do partido em que vou votar. Acima de tudo estão a democracia e as suas instituições.

Unknown disse...

Meu caro JC

Após uns dias ausente, eis que aqui me deparo com uma discussão interessante. Como as coisas são!
Imagine-se: quando todo o Belém emitia um silêncio ensurdecedor que favorecia inegavelmente o PSD, convinha que assim se mantivesse.
E então, faz hoje precisamente uma semana, a Ferreira Leite, qual padeira de Aljubarrota, brandiu a pá: a proba senhora que não queria uma campanha de casos, aproveita-se do silêncio de ACS e toca de insinuar que não quer viver num país em que o PR é escutado, em que o director de um jornal é escutado, que o vilão que manda no país manipula os Serviços de Informação a seu bel-prazer.
Isto é, a proba senhora utiliza quando lhe convém, a estratégia que critica ferozmente, e aproveita-se de um "caso".
Eis senão quando, ACS toma uma posição e esvazia a estratégia de inuendos de MFL. Ao mesmo tempo, o provedor do Público, personalidade insuspeita, vem acentuar o caracter duvidoso das "averiguações" jornalísticas do dito diário. E o respeitável director do Público vem desdizer-se e afirmar que os SIS não tinham nada aver com o caso Pois! deve-se ter apercebido da gravidade das dúvidas que expressara). Tudo junto, e verifica-se que à proba senhora, mas lhe valera estar calada.
Mas é difícil engolir um sapo deste tamanho. E a proba senhora vem então dizer que não disse aquilo que disse, negando as insinuações que fez. Só que, se estamos num país que, por vezes, parece de cegos, não estamos certamente num país de surdos. E a memória colectiva não é tão curta assim.
Ah! mas agora ACS tem que falar! Afinal em que ficamos? Um dia "Cale-se", nou outro "Fale"?
Imperdível foi ontem a patética actuação de Pacheco Pereira no programa Quadratura do Círculo. Quem não tinha a noção correcta do que é a Teoria da Conspiração, ontem ficou devidamente elucidado.E Também ficou elucidado sobre o porquê da campanha do PSD ter roçado o ridículo. Continuo abismado com a imaginação delirante deste homem. Pena que não se dedique à literatura de ficção. A sua frustração de momento, será, por certo, que a estratégia por si idealizada para Manuela Ferreira Leite, tenha ido abruptamente por água abaixo.
Abraço

VdeAlmeida

JC disse...

Caro VdeAlmeida:
Tb vi ontem a "Quadratura do Círculo" (poderia lá perder tal coisa!...). Comentava eu hoje de manhã ao telefone c/ um amigo que a argumentação de JPP me fazia lembrar os tenebrosos "processos de Moscovo", dos anos 30. Era exactamente com este tipo de argumentação e metodologia que se enviavam para a morte ou para a Sibéria os opositores de Joseph Djughashvili aka Zé dos Bigodes ou Stalin. O problema de JPP é exactamente esse: o seu ego dificilmente suporta a derrota enquanto ideólogo do PSD. Sinceramente, acho perdeu o respeito por si próprio.