sexta-feira, setembro 04, 2009

Algumas questões talvez laterais (mas se calhar nem tanto assim) sobre o caso do momento (TVI)

  1. Uma questão que o caso TVI vem, uma vez mais, levantar é a da co-habitação na mesma empresa e em lugares de subordinação hierárquica de funcionários (gestores ou não) com uma relação próxima de familiaridade. Em muitas empresas, principalmente as maiores e que adoptam métodos de gestão mais sofisticados, tal não é mesmo permitido, devendo, caso essas relações se iniciem e estabeleçam já após a sua admissão, um dos funcionários em causa abandonar a empresa ou ser deslocado para um outro posto de trabalho onde essa relação não seja susceptível de interferir com a vida profissional. Manuela Moura Guedes só terá alcançado o poder e influência que detinha por via do seu casamento com José Eduardo Moniz e da posição que este ocupava na Media Capital. Uma promiscuidade que mandaria o mais elementar bom senso evitar e de cuja responsabilidade a administração da TVI não se pode excluir, até porque essa mesma promiscuidade não é de todo alheia ao actual caso.
  2. As novas tecnologias trouxeram consigo uma democratização da comunicação e um aumento da liberdade de informação, algo sempre muito bem vindo. “Blogs”, caixas de comentários da imprensa “on-line”, fóruns de opinião acessíveis a todos são exemplo dessa democratização. Mas, por outro lado, destaparam a caixa de Pandora da iliteracia política e cultural de grande parte dos portugueses, do seu subdesenvolvimento, e tornaram muitas vezes essa participação num campo de batalha onde floresce o insulto, a análise (?) gratuita, a piada boçal e fácil. A doença transmitiu-se rapidamente aos “media” tradicionais e acabou por servir-lhes de ponto de referência, numa luta (aliás, legítima) pelas audiências. Esquecem os “media” tradicionais que, assim, perdem a prazo a sua capacidade de diferenciação, a sua razão de existência. O Jornal Nacional da TVI era apenas o exemplo mais extremo daquilo que afirmo, mas, infelizmente, outros lhe seguem as pisadas. Que seja o público, os consumidores, a traçar-lhes o destino e não qualquer decisão política ou administrativa, espera-se.
  3. A questão não é só referente ao Jornal Nacional, já que também por aí já li uma mal disfarçada alergia ao facto da melhor proposta para o 1º troço do TGV vir de uma empresa espanhola. Mas a tentativa de ressuscitar o anti-castelhanismo mais primário a propósito da suspensão do Jornal Nacional da TVI é absolutamente patética. Miguel Sousa Tavares também não resistiu a fazê-lo, ao colocar ontem em causa, na própria TVI, a questão dos centros de decisão nacionais nas empresas de comunicação. Sabemos onde isso nos leva...

Para terminar: quem tramou José Sócrates?, já que não me parece restem dúvidas de que terá sido mesmo “encaixilhado” (framed). Talvez nunca se venha a saber, mas, por mim, gostaria bem mais de chegada a sexta-feira ter opção de fugir a sete pés de Moura Guedes e do seu Jornal Nacional. É a que a "não escolha", enquanto cidadão, me empobrece.

2 comentários:

Rui disse...

Meu caro JC,

Tudo isto é lamentavel, e triste. Apenas uma vez assisti ao tal telejornal e achei aquilo mau, mesmo muito mau. Para além da substância rasteira, a forma estérica como era apresentado constituia um susto digno de comboio fantasma de um luna park qualquer. O aspecto daquela senhora completamente botoxicada ajudava também e de que maneira, para o cenário patético da telenovela mexicana das sextas. Ou seja, um produto perfeito para meter na "caixa de Pandora da iliteracia política e cultural de grande parte dos portugueses". Ou por outras palavras, um lauto e farto buffet para mentes subdesenvolvidas e bossais...

Só que tudo isto faz infelizmente parte parte da democracia... E mandar calar a senhora, da forma como se fez, também é mau, muito mau... Se fosse um jornal impresso alguem tomaria esta atitude? Com certeza que não! Queriam em pandeirar a senhora? Então fizessem-no com categoria, nivelando este caso por cima. A forma como agora isto se passou não é mais que uma sequência do registo rasca que era o tal telejornal...

Tudo isto existe,
Tudo isto é triste,
Tudo isto é fado...

JC disse...

Olhe, Rui: leia no "Público" on-line o que diz o Miguel Pais do Amaral, antigo dono da Media Capital, sobre o assunto e o "timing" da decisão. Subscrevo.
Mas v. está em vantagem: nunca vi tal coisa (Jornal Nacional), excepto no You Tube aquela peixeirada com o Marinho e Pinto. Aliás o mesmo acontece nos outros dias, excepto por vezes, quando posso, para ver os comentários do MST.
abraço