segunda-feira, julho 06, 2009

Dos chifres e dos cornos!

Desde as célebres comédias portuguesas dos anos 40, as do António Silva e Vasco Santana (depois disso tivemos azar com ambos, Vascos e Santanas), que me diverte o facto de quando se pretende retratar as chamadas “classes altas” estas sejam vistas como “bem falantes”, falando “caro”, como se diz na gíria, expressando-se “arrebicado” e de forma pretensiosa. Supremo erro: nas classes altas utiliza-se um léxico relativamente reduzido (existe mesmo como que um código para palavras intrusas e outras admitidas) e fala-se normalmente de forma muito directa, quase como quem atira pedras, a maior parte das vezes utilizando as palavras na sua forma mais vernácula. Mais: quem pretenda falar “caro e arrebicado” é ridicularizado, tido como “possidónio”, arrivista. Maria Filomena Mónica já uma vez a isto se referiu em uma das suas crónicas...

Mas a que propósito vem isto agora? Bom, voltamos à história dos “chifres” do ministro Pinho (Honni soit qui mal y pense!)!

Quase como quem tem medo de ferir susceptibilidades ao utilizar palavras tidas por inapropriadas - “rascas”, talvez - os jornais e televisões deste país de brandos costumes lá trataram de omitir os “cornos” (ou os “corninhos”, que têm muito mais graça), substituindo-os por uns “chifres” que sempre me foi explicado ser palavra francesa para designar um número ou o valor de algo. Mais ainda: hoje de manhã, a propósito dos agentes da PSP atingidos a tiro (e não “baleados”, se fazem favor), o noticiário da TSF salientava que um deles tinha sido operado a uma “vista”. Como sempre me ensinaram que a “vista” é o sentido e o orgão é o “olho” (o “olho”, sim, o “olho”) suponho que um dia destes ainda nos venham informar que alguém terá sido operado ao “tacto”, ao “gosto” ou ao “olfacto”! É que já basta o cancro substituído pela actual “doença prolongada”, ou o “da janela à rua” para designar os suicídios num “feliz” país de antigamente onde eles não podiam existir e estavam proibidos por decreto. É que tudo isto só me faz lembrar antiga história, passada com um colega de trabalho, pessoa já de uma outra geração. Ao ser-lhe perguntado a que tinha sido operada a sua mulher, respondeu que “a uma doença das senhoras”. Comentário de um outro colega: estranha palavra para designar as “partes fundengas”!!!

5 comentários:

Rato disse...

Na "mouche", como sempre, caro JC!

JC disse...

Thank U.

Rui disse...

Muitissimo bem observado, meu caro JC! Pela aragem compreende-se quem vai na carruagem... E já agora deixe-me compartilhar consigo os arrepios que sinto quando ouço a palavra esposo/a em vez de marido e mulher, refeição em vez de almoço, jantar etc, sanita em vez de retrete, aniversário em vez de anos etc, etc, etc...

JC disse...

Ficam compartilhados...

ié-ié disse...

Também comungo da "mouche"! E o que dizer dos "novos neologismos"? "portajar" (que horror!). "empresializar" (nem sei se é assim que se escreve), "contratualizar", sei lá...

LT