quarta-feira, junho 24, 2009

Zinemmann, Cooper e Tex Ritter

Tex Ritter - "Do Not Forsake Me, Oh My Darling"

"High Noon", de Fred Zinemmann (1952)
Será talvez o mais político dos "westerns" clássicos, apesar de por certo me irem recordar Liberty Valance (um filme que não é muito das minhas simpatias por achar ser, acima de tudo, pequeno-burguês e anti-política). Um libelo contra o Macartismo, vindo de um Carl Foreman em tempos membro do partido comunista americano, autor do guião, e um dos perseguidos pelo tristemente célebre senador McCarthy. Mas também, e no caso muito bem, um filme anti-pacifista na actuação final de Grace Kelly (“que raio de mulher és tu”, diz-lhe Katy Jurado numa frase que num "western" só poderia ser dita por uma mestiça despeitada, de convicções e poucas convenções), no filme uma quaker e noiva de Gary Cooper com quem consta manteve um caso durante as filmagens (habitual em Kelly, esta queda para se envolver com quem contracenava).

Zinnemann era um austríaco, como muitos outros cineastas americanos fugido ao nazismo, mas que, uma vez nos USA, nunca tomou posições políticas militantemente relevantes. Em “Julia” (1977), contudo, não deixará de abordar o tema do anti-nazismo, tendo por companhia duas reconhecidas “liberais” (Vanessa Redgrave e Jane Fonda). Posições políticas, e contra “High Noon”, ficaram a cargo do suspeito do costume, o ultra-conservador John Wayne acolitado por alguns oportunistas de ocasião. Mas, para além dessa carga política “liberal” e anti-pacifista, o filme ficou também famoso por outras igualmente boas razões: o facto de a duração do filme corresponder à duração real da acção (aquele relógio de parede omnipresente!) e pelo oscarizado tema musical de Dimitri Tiomkin, “Do Not Forsake Me , Oh My Darling”, no filme interpretado por Tex Ritter mas que conhecemos melhor, mas pior sem o despojamento da versão de Ritter, na interpretação de Frankie Laine. Cooper também ganhou um Oscar, não sei bem se pelo seu papel no filme se por ser ele, Gary Cooper. Qualquer que fosse a razão, bem merecido!

Vi o filme no cinema, que me lembre, duas vezes. A primeira ainda pré-adolescente (talvez no ano da morte de Cooper, 1961), no cinema Império mas já em reposição (o filme é de 1952 e nessa altura ainda nem ler sabia); mais tarde na Cinemateca, há bem poucos anos. Pelo meio ficaram umas quantas “visões” em vídeo, as suficientes para poder dizer que talvez não me reconheça tanto em qualquer outro dos "westerns" clássicos. Pelo seu liberalismo (tome-se no seu significado americano), também pelo seu individualismo, por Gary Cooper, por Kelly (uma das “loiras frias” de Hitchcock), pelo seu lado "thriller", pelo tema de Tiomkin.

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