domingo, maio 24, 2009

As provas de aferição, o "Manual de Aplicadores" e os professores ofendidos

Segundo julgo saber, as tão faladas provas de aferição, realizadas na passada semana e que têm como objectivo avaliar o grau de conhecimentos dos alunos nas cadeiras de português e matemática, são iguais em todo o país e para todos os alunos. Certo? Sendo assim, e tendo lugar nas mais variadas escolas, do Minho ao Algarve incluindo as regiões autónomas, supervisionadas por professores com personalidades e características diferentes, também práticas que se esperam e desejam diferenciadas no seu dia a dia, nada mais natural que o Ministério da Educação estabeleça um manual de procedimentos o mais rigoroso possível, normalizado, definindo a metodologia e o léxico a utilizar na sua apresentação aos alunos e o método correcto da sua execução, minimizando interpretações pessoais de cada professor, possíveis mal-entendidos e explicações dúbias, a utilização de palavras desconhecidas dos alunos ou, até, as normais distracções. Só assim se poderão colocar todos eles, tanto quanto possível, em igualdade de circunstâncias e minimizar reclamações e queixas posteriores sob a alegação que a professora X não explicou bem ou o professor Y se esqueceu de mencionar isto ou aquilo. Que o professor Z não se exprimiu de forma adequada. Pode contestar-se a necessidade dessas provas de aferição, o facto de serem iguais para todas as escolas, mas uma vez existindo, com estas características, parece-me difícil e até indesejável fugir a esta realidade.

Aliás, é exactamente assim que se procede, em situações comparáveis, nos países civilizados e nas organizações responsáveis, deixando o mínimo possível ao acaso, às interpretações pessoais e ao livre arbítrio de cada um, quer estejamos a falar da NASA, de uma empresa multinacional ou da organização pela FIFA de um campeonato do mundo de futebol. Se me é permitido citar um caso pessoal muito simples e por todos facilmente entendível, quando da Guerra do Golfo todos os executivos da companhia para a qual então trabalhava, quer estivessem em Londres, Lisboa ou na Conchichina, receberam um manual pormenorizando, de modo detalhado e com um questionário/resumo de perguntas e respostas no final, todos os procedimentos a seguir e cuidados a ter nas suas viagens, profissionais ou privadas, enquanto a guerra durasse, incluindo o que deveria dizer e como se deveria comportar em diversas situações, etc, etc. Não me lembro de algum ter estranhado tal coisa... e, como devem calcular, nenhum deles estava sequer perto de poder ser considerado mentecapto, temerário ou pouco habituado a viagens. E que dizer dos check-lists dos pilotos de avião, repetidos em voz alta por piloto e co-piloto? Fazem deles atrasados mentais ou destinam-se apenas a minimizar riscos?

Se os senhores professores querem ter, e acho muito bem que assim seja, espaço para exercerem a sua criatividade e autonomia, são as suas aulas e a colaboração na gestão da escola o espaço e tempo próprios para o fazerem, assim proporcionando aos alunos melhores condições para o seu bem-estar e aproveitamento escolar. O problema é que, nesses campos e quando isso lhes é solicitado, raramente parecem muito preocupados ou interessados em exercê-la, protestando de imediato contra tudo o que se afaste do conservadorismo e dos hábitos instituídos. E se, pelo menos, deixassem de ser provincianos e de agir como donzelas ofendidas? Não acham já seria uma contribuição bem positiva?

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