sábado, abril 25, 2009

Discursos, discursos...

  1. Conforme tinha aqui previsto, as afirmações do primeiro-ministro na sua entrevista à RTP sobre os parâmetros que deveriam presidir ao seu relacionamento institucional com Belém serviram fundamentalmente para condicionar futuras intervenções públicas do Presidente da República em período eleitoral, começando pelo conteúdo do tradicional discurso do 25 de Abril. Por essa ou qualquer outra razão, Cavaco Silva terá proferido o seu discurso mais neutral enquanto presidente, permitindo ao PS optar, com vantagem, por uma intervenção evocativa emocional na sessão solene da AR em vez de se decidir por um discurso mais vincadamente político. Resta-me tirar o chapéu...
  2. Também como aqui previ, Paulo Rangel trouxe para a campanha a campanha eleitoral para o Parlamento Europeu o tom - da retórica e chicana parlamentares - em que, saber de experiência feito, se sentirá mais à vontade. Se dúvidas ainda restassem depois das suas anteriores intervenções, o despropositado discurso de hoje serviria de prova. Está no seu direito, mas se tivesse chapéu não o tirava...
  3. Jerónimo de Sousa acertou em cheio quando falou das pouco veladas alusões do Presidente da República à hipótese de um futuro “Bloco Central”. Cavaco Silva foi-se precavendo assim para uma eventual perda da maioria absoluta por parte do PS e tentou deste modo marcar a sua equidistância partidária. Acontece, no entanto, que o objectivo do PS é a maioria absoluta... De qualquer modo, tiro a chapéu a ambos, Jerónimo de Sousa e Cavaco Silva.
  4. Seja pela crise, seja pelo ano eleitoral, seja isso corresponda a um sentimento geral no país que os deputados assim julgam capitalizar (será um pouco de tudo?), não me lembro, nos últimos anos, de uma tão grande radicalização de discursos em sessões evocativas do 25 de Abril na Assembleia da República. Sei que a tentação é grande e o recurso ao discurso do tipo “os jovens capitães que na gloriosa madrugada do 25 de Abril devolveram a liberdade ao povo português” não será muito motivador. Mas, neste caso, ainda bem que não uso chapéu...
  5. Que desse por isso, ninguém se referiu especificamente ao Cardeal Patriarca nas alusões às entidades convidadas. D. José Policarpo não estava presente ou isto é mesmo um progresso? Nada tenho contra D. José Policarpo, para além de ser do Sporting e fumar demais... Mas se isto corresponder a um caminho percorrido na efectiva laicidade do Estado, tiro o chapéu três vezes.

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