domingo, março 22, 2009

"Habite agora; pague depois". Ou mais um exemplo de uma medida positiva que o excesso ou a má propaganda podem anular

Nas empresas e nas famílias, quando se tem dificuldade em cumprir com os compromissos de curto prazo renegoceia-se a dívida, prazos e modos de pagamento, tentando que esta ou uma sua parte se possam diferir e esperando e agindo no sentido de que a situação entretanto melhore. Afastado ou filtrado o ruído, é exactamente esta uma das alternativas que o governo concede a quem está desempregado e tem uma casa para pagar: diferir pagamentos durante dois anos, esperando que entretanto a situação da pessoa ou família em causa melhore, permitindo-lhe, nesse futuro próximo, cumprir o compromisso assumido na sua totalidade (dívida em atraso + dívida remanescente). Com esta acção concede-se também à Banca, na difícil situação actual do sector, a possibilidade de esperar algum tempo por uma execução da hipoteca no caso de incumprimento.

Poderá dar origem a uma sobrecarga de pagamentos futuros e a eventual situação de incumprimento, daí resultante, por parte de quem aderir a este modelo? É bem possível que isso possa acontecer em alguns casos, quando a situação das famílias em causa não melhorar. Mas partindo do elementar princípio que só irá aderir a este programa quem não tenha qualquer hipótese de pagar actualmente a prestação da sua casa (utilizando a expressão comum: “quem esteja com a corda na garganta”), não só isso aconteceria já, no momento presente, para a sua totalidade (caso não existisse a possibilidade agora aberta), como algumas famílias poderão entretanto ver a sua situação de desemprego resolvida e, finalmente, conseguir cumprir com os compromissos assumidos. Poucas? Uma ou duas? Será sempre positivo!

Porquê então tanto ruído? Muita responsabilidade do governo no modo como anunciou a medida, explicando-a mal e amplificando demasiado algo que é, indiscutivelmente, apenas mais uma hipótese de ajuda para alguns e não a salvação nacional. É que, embora a propaganda não seja, em si mesma, algo de negativo ou condenável, quando a “promessa” excede as capacidades e potencialidades do “produto” tende a voltar-se contra este, prejudicando seriamente o seu êxito e de outros produtos futuros com a mesma origem. E, além de tudo o mais, abre portas a uma muito maior eficácia da chamada contra-propaganda, neste momento, apesar das queixas de José Pacheco Pereira contra RTP e DN (entre outros), talvez já com expressão maioritária na comunicação social. Pode ser que o governo, sem dar por isso, esteja mesmo a brincar de aprendiz de feiticeiro... Que se cuide!...

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