domingo, fevereiro 15, 2009

Que regras para a "ajuda" às empresas?

Tem sido muito criticada, e é um pouco por todo o lado "vox populli", a aparente ausência de regras claras, estritas, sobre as condições que devem presidir, em tempo desta crise, ao auxílio estatal a empresas. A lógica do “falatório” parece ser simples: porquê a empresa A e não a B?; porquê a Quimonda, o sector automóvel e não o têxtil?; porquê a empresa de um grande grupo económico e não a loja de comida feita da Dona Graciete ou o talho do Sr. Joaquim? Poderíamos continuar por aí fora... Mas, devo dizer, talvez se esteja a confundir um pensamento simples, e como tal, facilmente aceite, na sua lógica, por todos, com a simplificação de um problema, assim contribuindo para uma sua análise e compreensão deficientes. As afirmações de Paulo Portas sobre a obrigatoriedade de empresas “ajudadas” não puderem despedir integram-se neste mesmo estado de espírito e, tal como no caso da proposta de Francisco Louçã de empresas que apresentassem lucro serem proibidas de efectuar despedimentos, são um completo disparate, demagogia da mais rasteira que teria como consequência a morte pela cura em substituição de igual trágico acontecimento caso a doença se mantivesse. Dinheiro desperdiçado, pura e simplesmente, pois impediria restruturações eventualmente necessárias para assegurar a competitividade futura.

De facto, não me parece se possam estabelecer, neste caso, regras estritas, quase como um código ou um manual de instruções do estilo “check list”: empresas com mais de X funcionários, com facturação superior a tanto, inseridas nos sectores tais e tais, exportanto n% da sua produção, com y% de trabalhadores com formação superior e por aí fora. Pura e simplesmente, não me parece alguma vez tal coisa, a existir, pudesse funcionar eficazmente e no tempo útil requerido. Será com certeza impopular admiti-lo, mas parece-me que estamos perante um assunto que terá uma abordagem muito mais eficiente se feita apenas na base de alguns guidelines mais ou menos flexíveis, não abdicando, em alguns desses princípios orientadores, de questões que se prendem com a importância estratégica e estruturante das empresas e do sector em que se integram, da região em que se situam e da sua importância na coesão social local, da sua eventual vocação exportadora, da esperada competitividade futura. Digamos que muito dependente da lógica e do bom-senso, algo que tantas vezes falta a políticos e governantes e em quem, por isso mesmo, é tarefa árdua confiar. Assim sendo, um contra-senso, o que se propõe? Sem dúvida, mas em situação de dificuldade ímpar não me parecem existir opções que não passem por simples governantes se verem obrigados a transformarem-se, por vezes em aparente “contra-natura”, em respeitados “homens de estado”... Tal como, na guerra, a necessidade de sobrevivência tantas vezes cria "heróis", pois claro...

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