segunda-feira, janeiro 19, 2009

A moção de Sócrates: fumar sem inalar?

Não constituindo medidas de aplicação imediata e, portanto, não tendo de entrar em linha de conta com as condições reais e concretas, políticas, do momento, as linhas gerais da moção que José Sócrates irá apresentar ao congresso do Partido Socialista não passam de uma pura e simples manifestação de intenções, e como tal devem ser tratadas. Ora todos sabemos, mais a mais em época de enorme crise internacional, ao preço a que andam os desejos e as manifestações respectivas, principalmente as que se relacionam com a área económica. Por isso... foi mais importante o anúncio ter-lhe permitido marcar a agenda política (como por aí se diz), retirando protagonismo ao congresso do CDS, e aumentar o seu share of voice face às últimas declarações vindas do PSD e de Ferreira Leite, aproveitando também a oportunidade para preencher o vazio criado por um certo refluxo recente da onda Manuel Alegre, piscando o olho à sua esquerda, do que pelo significado prático efectivo que o seu conteúdo possa algum dia vir a assumir. Também pelo mesmo motivo, será bem mais necessário, de momento, centrar a análise e o escrutínio nas medidas implementadas nos tempos que vão correndo, as que efectivamente podem preparar o caminho futuro, do que em quaisquer amanhãs, por muito auspiciosos que o possam vir a ser.

De qualquer modo, uma ou outra nota.
  1. Não me parece que o principal problema da educação seja “extensivo”, do número de anos do ensino obrigatório, mas sim organizativo e de conteúdo. Por isso mesmo, aumentar para 12 anos o ensino obrigatório sem consolidar algumas reformas em curso e iniciar e aprofundar outras, parece-me despropositado. Contraproducente e uma fuga para a frente que pode vir a ter maus resultados.
  2. Admitir o casamento homossexual sem o direito á adopção parece-me um pouco como fumar sem inalar, ou sexo sem penetração. Um pouco à Bill Clinton... No seu lado pior, entenda-se. Não me parece exista alguma conclusão científica ou sociológica que vivamente o desaconselhe, mas apenas o conservadorismo atávico da sociedade portuguesa. Digo eu, heterossexual com filhos e netos.

2 comentários:

AnaLu disse...

"à adopção" :)

JC disse...

Ana: eu sei; escapou e o corrector não se queixou. Sorry!