sexta-feira, novembro 28, 2008

Bloco de Esquerda, contestação e poder

Tendo em atenção o que se passou em Lisboa, podemos afirmar ser o Bloco de Esquerda apenas um partido com vocação contestatária, incompatível com o poder, com um projecto de governação? Melhor seria se assim fosse, mas penso ser necessário ir um pouco mais além. O que a ruptura entre o Bloco e Sá Fernandes vem demonstrar é que, no limite, aquele continua fiel, demasiado fiel embora sob a capa de uma pós modernidade que tem dificuldade em assumir como essência quando as contradições se agudizam, a um projecto de poder vanguardista/leninista que não aceita compromissos mas vive e se alimenta de e para a ruptura. É pois nessa ruptura que se exprime o seu projecto de poder, tal como aconteceu com os bolcheviques em 1917. Ao contrário do PCP, que é um partido claramente moldado pelo “revisionismo” estalinista e, por isso, sempre disposto a engolir sapos e elefantes, manadas de mamutes se necessário for, por umas migalhas na partilha do poder de estado, onde realmente melhor se expressa a sua vocação, e a subordinar a “luta de massas” a esse objectivo, o Bloco, embora assumindo alguma modernidade nas questões de sociedade (e foi esse o segredo do seu êxito no eleitorado jovem e urbano), tem dificuldade, em função da sua “marca de origem” leninista, "classe contra classe", em assumir um projecto de poder outro que não o da ruptura e do não compromisso. É fundamentalmente isto – e não o ser um partido de contestação pura e simples em vez de um partido com vocação de poder - que separa o PCP e o Bloco, e que separa este da democracia liberal tal como a entendemos. Será também isto que separa as forças que estão na origem do Bloco? PSR e UDP, de um lado, e Política XXI?

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