quinta-feira, setembro 04, 2008

O "Correio da Manhã" e o Estado de Direito (e também o meu direito á indignação)

Sim, eu sei que é o “Correio da Manhã” e não um qualquer jornal de referência, caso ainda os haja. De qualquer modo, isso, em minha opinião, ainda torna o caso mais gravoso, pois acaba por reflectir o sentimento geral do “povo da SIC” e, por sua vez, agir sobre ele ajudando a sedimentar aquelas que são já as ideias dominantes. Mas a função do “CM” é vender jornais, desde que o faça dentro dos parâmetros definidos pela lei, e, assim, através dos lucros gerados, retribuir devidamente o investimento efectuado pelos seus accionista e contra isso nada de fundamental, de facto, tenho. Mas, dizia, o “Correio da Manhã” insurge-se hoje, em primeira página, pelo facto de um cidadão preso preventivamente há três anos e meio, o máximo permitido pela lei (começo por dizer que só o facto, em si mesmo, de um cidadão poder estar três anos e meio preso preventivamente me arrepia), por ter morto a amante (acho que a regou c/ gasolina, segundo o “CM”) ter sido posto em liberdade a aguardar julgamento pois o anterior, pelo qual tinha sido condenado, foi declarado nulo. Mais, indigna-se o referido “CM” pelo facto do cidadão, inocente até prova em contrário pois o julgamento foi declarado nulo e sem qualquer efeito, se preparar, enquanto aguarda novo julgamento em liberdade e eventual futura condenação, para exercer a sua profissão de professor e ser autorizado a estar com o seu filho de 3 anos.

Pois a mim, o que me indigna é o facto do cidadão estar três anos e meio preso preventivamente (mesmo que por um crime grave e do qual dificilmente obterá absolvição) sem um julgamento válido e trânsito em julgado da sentença. Tal como me indignaria que não fosse, entretanto, autorizado a exercer a sua profissão desde que isso não constituísse perigo notório para a sociedade ou fosse possível fonte de reincidência (o que me indignaria é que tendo uma profissão qualificada se deitasse à sombra do Estado ou da caridade pública), ou que não fosse autorizado a exercer as suas funções de pai desde que isso não oferecesse qualquer perigo ou causasse possível dano ao equilíbrio psíquico e de vida da criança. Mais ainda, parece que até existem idóneas testemunhas abonatórias e o crime terá sido cometido num momento de desvario o que, podendo servir de circunstância atenuante mas nunca de desculpa, pode pelo menos ser indício de que o dito cidadão não deverá constituir perigo imediato para a sociedade.

Sim, eu sei que estamos a falar do “Correio da Manhã”, mas no momento em que tantos dos que se indignaram contra os julgamentos populares dos “media” cavalgam agora a histeria securitária, no momento em que uma revista semanal leva a efeito uma sondagem sobre a culpabilidade dos McCann, como se isso se pudesse substituir à justiça dos tribunais, bem ou mal aplicada, eu indigno-me contra um país onde nasci e onde vivo e no qual parece as leis, a liberdade dos cidadãos e o estado de direito democrático vogam ao sabor da opinião conjuntural do jornalismo tablóide, da cobardia política e da opinião do “povo da SIC”.

3 comentários:

MFerrer disse...

O disparate não tem limites?
Então o tal de professor e assassino já condenado num primeiro julgamento ( apenas parcialmente anulado, e não como vc diz ), condenado a nada menos de 20 anos de prisão maior, agora, mercê de habilidades processuais que conseguem fintar a lei e a sua bonomia, merece alguma consideração da sociedade?
Felizmente que a DREL já se opôs à sua reintegração na escola, como a própria lei exige!
Ainda está livre? Pois será por pouco tempo! que o lugar dos assassinos não é no lar a tratar dos filhos, como vc defende.
E os filhos da que foi regada e queimada viva? estão onde? e ela que teve que conduzir durante uma hora, completamente nua e queimada, com dores horrorosas e que viria a morrer apenas 3 meses depois, ela que pena lhe merece?
Tenha um pingo de vergonha já que de juizo percebe nada!
MFerrer

JC disse...

Nada mais acrescento ou retiro àquilo que afirmei.

MFerrer disse...

Vc é mesmo assim ou é de outro planeta?
Pois pode limpar as mãos à parede e rever-se na porcaria que escreveu.
MFerrer