segunda-feira, setembro 15, 2008

Hinos nacionais (1)

Joseph Haydn - Kaiser Quartet, 2º andamento. Tema no qual se baseia "Das Lied der Deutschen", Hino Nacional da Alemanha.
Os hinos nacionais, ao contrário do que alguns pensam, não existiram nem sempre nem desde há muitos anos. Eles foram, isso sim, produto da época de nascimento dos estados-nação, no século XIX, quando, por via da ascensão ao poder das diversas burguesias nacionais, se tornou necessário substituir a lealdade ao rei ou ao seu “senhor” por uma entidade mítica que aglutinasse todo um “povo”, toda uma “nação”: a pátria. Por isso, não admira que muitos dos hinos nacionais tenham sido gerados nessa época, mesmo que só mais tarde tivessem sido adoptados como símbolo do estado-nação, e reflictam, pelo seu carácter belicista e expressão de um nacionalismo exacerbado, o espírito da época, marcado pelas lutas de emancipação nacional. É assim, por exemplo, com a “Marselhesa”, com a “Portuguesa”, dela decalcada e composta a propósito do “ultimato inglês” sobre a questão colonial (ter colónias era então algo considerado essencial ao poderio de uma nação, à afirmação nacional), com o actual hino italiano, composto durante o “Rissorgimento” como símbolo da ideia de Itália (“perché non siam popolo, perché siam divisi”, canta-se.). Por alguma razão, em estados plurinacionais como a Espanha, o hino nacional é muitas vezes mais factor de divisão do que de união, significando para as nações que aspiram à autonomia ou independência uma ideia de opressão. Mesmo no caso do “God save the Queen”, também o hino de estados independentes pertencentes à "Commonwealth" tais como o Canadá e a Austrália (a rainha de Inglaterra é o chefe de estado de ambos), os valores belicistas estão longe de estar ausentes, pois nele não deixa de se pedir “send him/her victorious”. Esses hinos têm hoje apenas um valor simbólico institucional (é perfeitamente demagógico identificar no século XXI a adesão aos valores nacionais com saber ou não cantar o hino), servindo fundamentalmente para marcar e definir momentos protocolares, não sendo de admirar que a sua função original lhes seja principalmente restituída pelo desporto, onde no campo, frente a frente, estão os adversários/inimigos que se vão degladiar. É também por isso, e não por serem mais patriotas ou sentirem mais a camisola, que os jogadores da selecção portuguesa de rugby o cantam com tanto entusiasmo. O rugby é um desporto de combate, de conquista de terreno, e o hino funciona aqui como um cântico guerreiro, tal como o “Haka” neo-zelandês.

Bom, tendo dito isto existem alguns hinos nacionais que, dentro do género, são peças musicais estimáveis, sendo igualmente conhecidas algumas interpretações que se tornaram de referência ou incontornáveis por vários motivos, nem sempre os melhores no que à sua função original dizia respeito. O “Gato Maltês” propõe, por isso, durante esta semana, um pequeno percurso por cinco deles, dos mais conhecidos e que se situam, certamente, entre aqueles que mais gosta, sempre procurando apresentar algumas interpretações dentro do conceito acima expresso. Para começar, não propriamente um hino, mas o 2º andamento do quarteto do Imperador (Kaiser Quartet), de Joseph Haydn, em cujo tema se baseia “Das Lied der Deutschen” (a Canção dos Alemães”), hino nacional alemão que por algumas vicissitudes passou na atribulada vida da Alemanha do século XX.

Sem comentários: