sábado, julho 05, 2008

As médias de matemática e o "chico-espertismo"

Confesso que sempre me incomodaram bastante aquelas pessoas que passam toda a sua vida, ou perto disso, a fazerem os outros passar por parvos. Não gosto. Irrita-me. É o princípio do “chico-espertismo”, tradicional doença nacional. E quando esse tipo de acções parte do Estado e das suas instituições, definindo um padrão de comportamento para toda a sociedade, a “coisa” não só me irrita como me revolta - a mim, membro de uma ilustre família tida por “lutadora de causas perdidas”. Por isso, revolta-me que o Ministério da Educação (que aqui tantas vezes tenho defendido para escândalo dos meus amigos professores) tente fazer passar os cidadãos por parvos esperando que estes se convençam que a evolução das médias de matemática nos últimos cinco anos, de 8,8 para 14 valores, tenha acontecido, maioritariamente (repito: maioritariamente), por via de outras razões que não uma alteração dos padrões de avaliação e/ou um abaixamento significativo do nível de conhecimentos exigidos. Pura e simplesmente, não é possível. Ponto final.

Mas a questão é ainda mais grave. Em primeiro lugar porque a ministra Mª de Lurdes Rodrigues está assim a esvaziar aquela que tem sido a sua base de apoio, sabendo-se que aqueles que a têm defendido, e a uma boa parte das suas políticas (como aqui tem sido feito), dificilmente pactuarão com soluções deste tipo, não se esperando que a ministra possa, tão miraculosamente como o fez com as médias de matemática, angariar novos e repentinos apoios nos sectores que a têm contestado. Em segundo lugar, porque não se pode enganar toda a gente todo o tempo e, assim, aquando da sua entrada para as Universidades ou para a vida profissional os alunos depressa verificarão, perante as dificuldades enfrentadas, que efectivamente o foram (enganados), voltando-se então a criatura contra o criador, como é clássico nos filmes de série “B”. Só que, aí, o criador já não será apenas a ministra da educação, Mª de Lurdes Rodrigues ou outra(o) qualquer, mas todo um governo, as instituições e o país. Algo que interessará pouco aos “chicos-espertos”, pois claro.

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