segunda-feira, dezembro 10, 2007

Os portugueses e o café...

Comecei a beber café muito novo, para aí com 12 ou 13 anos ou coisa do género. Talvez por influência do meu pai, quando, por vezes, o acompanhava, ao fim da tarde, nas tertúlias do “Belenenses”, o clube da tradição familiar, que se reuniam no café Nicola; talvez por hábito de me sentar ao lanche junto da cama de uma das minhas avós durante a sua doença; talvez por causa da loja de chás e cafés, a poucos metros de casa dos meus pais, onde passava diariamente e de onde vinha um cheiro de que gostava, aproveitando para ficar alguns minutos a ver na montra os montinhos de café de vários lotes e com nomes sugestivos, os rebuçados Heller coloridos e os bombons da Regina com corações desenhados no papel de prata em que se embrulhavam e que as raparigas tinham por hábito (“possidoneira” suprema, diga-se) guardar entre as folhas dos livros. Talvez por nada disto, e tudo o que disse não passem de memórias quase esquecidas de infância sem qualquer influência no hábito, mas o que é certo é que lá em casa o café era omnipresente, trazido em grão e moído na altura desse mesmo Nicola quando, em época pré- supermercados, apenas aí os seus lotes se vendiam.

Serve este intróito para dizer quanto estranho o hábito, tão português, de sair após almoço ou o jantar para beber um “expresso”, não mais do que sofrível, no café da esquina, normalmente local pouco ou nada acolhedor ou recomendável, em vez de, em balão ou apenas naquelas pequenas cafeteiras prateadas de “ir ao lume”, beber um bom café (prefiro o “Moka Harrar” ou o "Colômbia Supremo", já que o Kona havaiano ou o Blue Mountain da Jamaica têm preços que desencorajam qualquer mortal sem aspirações a novo-rico emergente) sentado no meu confortável sofá da sala, acompanhado por um pequeno quadrado de chocolate preto e, por vezes, um excelente LBV não filtrado. Será que isto significa que não bebo café fora de casa? Claro que bebo, excepto no Algarve onde a qualidade da água torna o "beber um café fora" um sacrifício semelhante ao óleo de fígado de bacalhau. Mas normalmente faço-o de manhã, quando saio, já que o pequeno almoço, excepto ao fim de semana, não é normalmente dado às “grandes calmas” de degustar um bom café. Ou se almoço ou janto fora, claro. Mas isso de sair do conforto de uma casa e de um bom café em troca de um balcão frio e barulhento, ou então – nova moda – importar para dentro de casa o hábito do expresso ou do café em pastilhas, sem denominação de origem, do George Clooney, é pelo menos tão mau como o chá em saquetas, que está para o verdadeiro chá como o café solúvel ou o descafeínado estão para o café. Bom, mas isto do chá já outra conversa que fica para ocasião mais propícia.

6 comentários:

VdeAlmeida disse...

Ehehe, pois eu desde os primórdios do tal café em pastilhas que o "importei" cá para casa. E não estou arrependido, até porque, desde que deixei de frequentar a Casa Chinesa nunca mais bebi café de saco de jeito.
Gosto de um bom café (chateia-me não o poder beber à noite, se não lá se vai o sono), e até acho que o Nespresso, apesar de tudo, tem bons cafés. E depiis, evita a tal incómoda saída até ao café da esquina...

JC disse...

Pois, não se martirize, homem, já que até os meus filhos já aderiram ao tal Nespresso!!! Pelo vistos, fui pouco convincente!

LPA disse...

Também ninguém me apanha nesse tal café em pastilhas. É como a cerveja sem álcool, a manteiga sem sal, coca-cola sem cafeína, por aí...

LPA

JC disse...

Caro(a)LPA:
Só discordo da manteiga sem sal, a minha favorita já que actualmente a manteiga "meio-sal" passou a "com sal" (a mais, direi eu). É preferível comprar sem sal e, quem preferir, juntar-lhe um pouco quando servir. Mas, em contrapartida, posso incluir no grupo a manteiga "fácil de barrar" e outros "herzatz" do mesmo género. Ah, e o omnipresente e ubíquo chá em saquetas, que inviabiliza que se beba qualquer chá fora de casa, mesmo nas auto-denominadas "casas" do dito.

Anónimo disse...

Pois a conversa do café vem mesmo a propósito. Estando exilado, faz 4 meses, no outro lado do mundo (Singapura), o belo do cafézinho na pastelaria tradicional faz-me crescer água na boca. Não sei se é do expresso daqui saber a borracha queimada ou de ver os americanos sempre acompanhados da sua "mug" cheia de um líquido que mais parece água suja, mas sinto uma saudade imensa do belo do café expresso do carrossel ou mesmo da nespresso da minha casa em Lisboa. Como diz o outro "Gostos não se discutem". Só faltam 2 semanas para o bacalhau de natal e uma ida ao pastéis de belém.

JC disse...

Fica desde já prometido um café no "Carrocel" ou com pastel de nata em Belém!!! Isto antes que tenha ideias de me oferecer um Nespresso lá em casa (que para lhe fazer companhia, lá aceitarei o "sacrifício"!). Mas olhe que aí a Indonésia (tão perto) é terra de mtº bom café!
Até já!