sexta-feira, outubro 05, 2007

"Madeleine McCann e o Caso do Polícia Falador"

  1. Infelizmente para todos, e por via do chamado “caso Joana”, os antecedentes recentes da PJ de Portimão e do inspector Gonçalo Amaral estão longe da reputação inatacável.
  2. Desde o seu início, desde a própria noite do desaparecimento de Madeleine McCann (não será necessário adiantar as razões: são de todos bem conhecidas) que o caso continha em si todos os ingredientes para se tornar de resolução difícil, mediático (pior, feito à medida dos tablóides ingleses) e com repercussões internacionais. Requereria, pois, o maior bom senso, sobriedade e rigor no seu tratamento por parte da PJ, seja, colaboração imediata da polícia britânica, com meios mais sofisticados e actualizados e larga experiência em casos semelhantes (basta ver com regularidade a Sky News e acompanhar algumas séries policiais inglesas que, ficção à parte, acabam por reflectir o que se passa na sociedade), preservação do local do crime, não subalternização de nenhuma hipótese ou potencial suspeito credíveis e, uma vez que estamos a falar de cidadãos de um outro país, com hábitos e cultura diferentes, e de um caso que envolve algo de sentimentalmente doloroso como o desaparecimento de uma criança, algum pudor nos comportamentos do “dia a dia” que, por exemplo, evitasse o triste espectáculo dos prolongados almoços com vinho e whisky que caíram como “sopa no mel” na voracidade dos tablóides ingleses - e não só.
  3. Como se sabe, a PJ de Portimão não só não actuou neste registo como, desde o princípio e através de comentadores ex-inspectores e outros Flores, nos tentou vender a tese da “cabala” e da conspiração, das pressões neste ou naquele sentido (não será tempo de os portugueses se convencerem, de uma vez por todas, que as ditas pressões fazem parte da nossa vida e saber trabalhar e decidir sob pressão é normalmente o que distingue os muito bons dos restantes?) que, normalmente, existam ou não, não são mais do que manifestação de impotência e capitulação face à resolução do projecto que se tem pela frente. A entrevista de Gonçalo Amaral foi apenas o último episódio dessa impotência.
  4. Também foi visível, durante todo o processo e com maior evidência quando elas pareciam tornar-se mais necessárias, a avareza com que governo, director da PJ e quem de direito prodigalizaram declarações de confiança e apoio à PJ de Portimão, seja por falta de confiança no seu trabalho ou por quaisquer outras razões. Para a opinião pública, a partir de determinado momento isso passou a ser um dado do problema; os operacionais da PJ ter-se-ão apercebido disso, por certo, bem mais cedo. Não me parece que tenham tido isso em atenção, e se o tiveram actuaram como não deviam.
  5. Independentemente da natureza do crime e de quem o cometeu, o que não vem agora ao caso, para a PJ de Portimão e para o inspector Amaral, por culpa própria, o caso só poderia acabar assim: uma vergonha e um enxovalho. Um atestado de incompetência.

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