sexta-feira, setembro 28, 2007

Mourinho e Santana Lopes - contra a corrente (3)

Algo que o episódio Santana Lopes/SIC Notícias também revela, quando uma estação de TV decide interromper uma entrevista com um político em favor da chegada de alguém do mundo do espectáculo, neste caso desportivo, é a crescente vulgarização/desqualificação da actividade política em favor de outras até aqui desvalorizadas, principalmente aquelas integrantes das áreas das artes performativas, entretenimento e desporto. Só a esta luz ele poderá ser cabalmente entendido. Apenas mais um exemplo: duas das últimas “Grandes Entrevistas” de Judite Sousa, um espaço nobre na RTP1 em prime time, tiveram como entrevistados Luís Filipe Scolari e Vanessa Fernandes. Não cabe agora aqui, neste momento, analisar o assunto em profundidade, mas a valorização destas áreas terá muito que ver com a sua cada vez maior profissionalização e com o crescimento, qualitativo e quantitativo, da classe média no Portugal dos últimos decénios, crescente urbanização e subsequente emergência de uma cultura de massas - em que o povo deixou de ser apenas actor e agora também participa - até aí prisioneira do circuito das feiras e da cassete pirata. Mas também, e muito, do modo como os políticos, por incompetência, falharam na credibilização de uma actividade cada vez mais escrutinável e que, pela sua natureza – o governo do país - deveria ser de todas a mais nobre. A questão não será assim tão simples e é transnacional, mas, por agora, fiquemo-nos por aqui. Por último, não está ausente – longe disso – dessa desqualificação e vulgarização da política, a crescente promiscuidade de interesses que, ao longo dos anos, se foi estabelecendo entre jornalistas - saltando alegremente entre os “meios” e as assessorias de comunicação – comentadores e analistas, por um lado, e actuais governantes, futuros governantes e ex-governantes (alguns deles também comentadores), por outro, partilhando com demasiada frequência actividades, objectivos, cumplicidades, interesses e ambições. E, sabemos, demasiada promiscuidade, no relacionamento humano, leva quase sempre ao desrespeito e à ruptura.

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