terça-feira, agosto 14, 2007

"Silly Season" - Portugal e a falta de rigor

Já por aqui tenho afirmado que considero os portugueses e as empresas portuguesas, genericamente, pouco perfeccionistas, actuando de forma pouco rigorosa e recorrendo por demais ao improviso e menos aos procedimentos normativos. Deixa-se demasiado campo aberto ao individual, á inspiração de momento e menos ao estandardizado e normalizado. Tudo isto, claro está, não acontece por acaso, mas é fruto de um mercado pouco competitivo, tradicionalmente demasiado “defendido” pelo estado ou por fronteiras, vocacionado durante muitos anos para o mercado colonial e produtor de mercadorias de baixo valor acrescentado, pouco sofisticado fruto de consumidores pouco educados e exigentes. Tudo isto se torna, para mim, mais evidente quando tenho ou decido recorrer a serviços públicos, onde as situações de monopólio real ou “de facto” são mais evidentes - transportes colectivos, Serviço Nacional de Saúde, etc – embora reconheça que muito de bom se tem feito nos últimos anos e longo foi o caminho já percorrido.

Todo este “arrazoado” vem a propósito de ter utilizado o “Intercidades” no trajecto Lisboa (Entre Campos)-Funcheira (o "Alfa" não pára na Funcheira, a estação que serve o litoral alentejano), na passada sexta-feira. Já o tinha utilizado há dois anos, aí no trajecto Loulé-Entre Campos, sem quaisquer reparos negativos para além do que considero um tempo excessivo de viagem (três horas e quarenta e cinco minutos no "Intercidades" para três horas e sete minutos no "Alfa", que não pude utilizar por incompatibilidade de horário). Desta vez, dois reparos, que muito têm que ver com a análise efectuada no primeiro parágrafo:

  1. Ao entrar na estação de Entre-Campos, deveria existir, em cada entrada, um painel com a indicação dos trajectos servidos por cada uma das quatro linhas. Não existe, e é preciso procurar essa informação depois de entrar na estação. Para quem leva bagagem pesada, tenha alguma idade ou não esteja muito habituado a viajar, não será muito agradável ou claro.
  2. Em cada plataforma, a informação sobre o destino de cada combóio não é claramente legível ao longe, de todos os pontos dessa mesma plataforma (e eu vejo bem à distância). Claro que essa informação é repetida pela instalação sonora, mas, demasiadas vezes, “abafada” pelo ruído dos comboios que permanentemente chegam e partem (é também uma estação que serve as linhas suburbanas). Para além disso, e tratando-se de destinos turísticos (o combóio transportava umas largas dezenas), deveria ser transmitida em inglês, o que também não acontece.

Conclusão: pouco rigor e pouca consideração pelo utilizador. Uma vez mais, o mesmo problema de sempre.

1 comentário:

Anónimo disse...

Tudo muito natural, num país com uma longa e bem consagrada tradição de inversão de condutas: onde o Estado - e as coisas públicas - se servem do Povo; onde o que vende ou presta o serviço, faz o especial favor de atender o que compra.

Essa mentalidade nunca mudou, nem antes nem depois de 1974. Pior, se alguma coisa ocorreu, desde então, foi por vezes a consolidação desta atitude.

Ou não fosse este um país de "utentes".

Costa