quarta-feira, julho 11, 2007

História(s) da Música Popular (50)






The Brill Building


1 (dtª).Aldon Family circa 1963 (Top L-R) Jack Keller, Artie Levine, Lou Adler, Al Nevins, the Kirshners, Emil La Viola, and Howard Greenfield. (Bottom L-R) Barry Mann, Cynthia Weil, Gerry Goffin, Carole King and Neil Sedaka.
2 (esq.).H. Greenfield, D. Kirshner e N. Sedaka
Neil Sedaka - "The Diary" (Neil Sedaka - Howie Greenfield)
Pois a história podia começar assim: era uma vez um edifício situado no nº 1619 da Broadway. Ou então assim: o mercado emergente da nova cultura juvenil a que o r&r deu voz, não podia passar despercebido à indústria da música, que viu nele abrir-se um novo campo ao seu desenvolvimento. Pois então fica assim: desde antes da WWII que muitas das grandes produtoras e editoras de música tinham a sua sede no nº 1619 da Broadway, o “Brill Building”, assim chamado por via dos irmãos Brill, os seus proprietários originais. Depois do advento do r&r, mais precisamente em 1958, Don Kirshner, aquele que viria a ser um dos grandes produtores da pop (foi o "inventor" dos Monkeys e dos Archies), e a sua Aldon Music (em parceria com Al Nevins) estabeleceram aí os seus escritórios, embora mais tarde se tenham transferido para o nº 1650. E agora uma curiosidade: porquê aí? Bom, o nº 1650 tinha sido propositadamente construído para o efeito, com portas laterais, já que as leis da época não permitiam que os músicos utilizassem as... portas da frente! Era um bocado como se fossem os “marçanos” e as “sopeiras” da minha infância! E qual a ideia de Kirshner? Exactamente, partindo do r&r e tendo como mercado-alvo a nova cultura juvenil, criar um estilo musical mais melódico, musicalmente mais bem estruturado e orquestrado, suficientemente simples para ficar no ouvido mas sem o seu lado mais selvagem e que fosse ao encontro dos valores, sentimentos e aspirações dessa nova cultura emergente. Digamos que assim nasceu a pop, tal como hoje a conhecemos.

Para isso era necessário recorrer a quem tivesse bons conhecimentos de música e composição, mas, simultaneamente, fosse novo de idade e mente o suficiente para se enquadrar no espírito da época. E, de acordo com estes padrões, quem foram os primeiros contratados? Uma dupla já conhecida por ter composto um grande êxito para Connie Francis (“Stupid Cupid”, mais conhecido em Portugal pelo cover da brasileira Celly Campelo): Neil Sedaka, um músico de dezoito anos de formação clássica (piano), e o seu colega de escola Howie Greenfield. Foi apenas o início: Sedaka começou aí uma carreira recheada de êxitos como cantor e compositor (a “meias” com Greenfield), Kirshner enriqueceu, outras duplas de maior sucesso e consistência (até nas “letras”) foram contratadas (Barry Mann – Cynthia Weil; Carole King – Gerry Gofin; Ellie Greenwich – Jeff Barry; Doc Pomus – Mort Shuman; Jerry Leiber – Mike Stoller) e ao Brill Building ficaria para sempre ligado aquele que foi o maior produtor de sempre da pop music, tendo mesmo definido novos padrões para a função: Phil Spector, o “inventor” do célebre “Wall of Sound” e de um sem número de grupos e cantores da 1ª metade dos anos sessenta. Lá iremos, já que por aqui, pelo Brill Building, iremos ficar longo tempo, que ele (o 1619 – 1650 da Broadway) bem o merece.

Pois comecemos por aquele que terá sido mesmo o começo: “The Diary” da dupla “Greenfield – Sedaka”, #14 em 1959, interpretado pelo próprio Sedaka. Se pensarmos que Sedaka tinha sido escolhido por Arthur Rubinstein “himself” para tocar piano num espectáculo da “Antena 2” lá do sítio, veremos quão insondáveis são os desígnios da música e quanto toda ela é uma paixão.

Nota1: a televisão (não me lembro qual canal) passou não há muito tempo uma série documental sobre o Brill Building sound. Salvo erro, dava pelo nome de "Os jovens que se tornaram donos da Pop". O que vi, que não foi tudo, pareceu-me bem estruturado.

Nota2: Existem milhares de CD's sobre os compositores, autores e cantores ligados ao Brill Building sound. Muito por onde escolher, portanto, a maior parte bastante disperso. Existe, no entanto, uma antologia que é incontornável: "Back to Mono", de Phil Spector, 1958 - 1969. Inclui algumas das mais importantes produções e composições de Spector e dos seus "grupos" (Ronettes, Crystals), composições de Goffin & King, Mann & Weil, Barry & Greenwich e cantores como Ike & Tina Turner, Righteous Brothers, Ben E. King e Gene Pitney. 4 CD's, uma caixa, um livro, um pin e... o Phil Spector's Classic r&r Christmas Album. A não perder, mesmo!

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