terça-feira, junho 26, 2007

Rui Moreira: a imagem de um novo Porto?

Rui Moreira é a estrela ascendente do norte (leia-se Porto), tentando veicular a imagem de uma cidade e uma região que, esgotado o modelo exportador e de substituição de importações de baixo valor acrescentado, sem marca ou com marca do comprador, tenta encontrar a sua oportunidade no mundo do Portugal da UE e da globalização. Foi um modelo que encontrou uma base de sustentação nas condições políticas e de mercado do período entre o 25 de Novembro de 1975 e o início dos anos noventa, e o seu cimento ideológico na luta entre o Porto, cidade “portuguesa”, honesta e franca, capital do trabalho, e a “capital” “estrangeirada”, puramente administrativa e portanto gastadora, que ignorava o país real. Foi o modelo que teve em Fernando Gomes e, principalmente, Pinto da Costa as suas figuras mais mediáticas, e no FCP a instituição mais emblemática de uma cidade que convivia paredes meias com o campo, provinciana, com “quinhentinhos”, “guarda Abel” e “casas de alterne”. Foi todo um modelo que as privatizações, a UE, a globalização e, nomeadamente, a integração ibérica puseram em causa – e que, se quisermos, tem o seu epílogo simbólico no caso “apito dourado” e na derrota de Belmiro de Azevedo na OPA sobre a PT - tendo o Porto passado quase sem dar por isso de 2ª cidade portuguesa a (para aí) 10ª ou 15ª da península, situação que está também na base da cada vez maior atracção da cidade pelo noroeste peninsular.

Basta ter tido a oportunidade de visitar frequentemente o Porto e contactar com os meios empresariais da cidade nos últimos anos (eu tive essa chance na primeira metade da actual década), para sentir algum vento de mudança e prever alguns cenários futuros, dos quais Rui Moreira é a imagem. Sintomática, também, a sua ligação ao futebol e ao FCP, fruto da convicção de que nenhuma mudança significativa passará ao lado daquela que foi a indústria sustentadamente de maior sucesso e a instituição mais aglutinadora e que melhor veiculou a ideologia de um projecto e de uma cidade.

Mas como old habits die hard, veremos se e de que modo as mentalidades e os velhos hábitos, tão difíceis de mudar mesmo nas sociedades não democráticas (com campos de reeducação e tudo), serão capazes de se adaptar ao novos tempos. Para já, lendo e ouvindo o que por aí se vai dizendo e escrevendo, mormente em alguns blogs nortenhos, as coisas parecem estar a ser bem complicadas. É que, por vezes, a “coisa” faz-me lembrar aquela história do portuense que, para não lhe perguntarem, sempre que abria a boca para falar, se era do Porto, decidiu perder o sotaque. Quando novamente veio a Lisboa, agora falando como qualquer alfacinha de quinta geração que se preze, ao repetirem-lhe a pergunta estranhou e perguntou porquê, tendo o interlocutor respondido: “ah, é esse toquezinho piroso”!!!

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