terça-feira, junho 12, 2007

Governo - que fazer agora?

Apesar do sucesso conseguido com o cumprimento dos objectivos a que se propôs relativamente à contenção do déficit público (e já não é pouco, se nos lembrarmos do “antecedente”), o governo perdeu, indiscutivelmente, nos últimos meses, a iniciativa política, dispersando-se, ou deixando-se dispersar, por erros próprios, por questões não essenciais ou que, sendo-o (caso do novo aeroporto de Lisboa), eram evitáveis com uma gestão mais cuidada e uma mais rigorosa previsão política.

Precisa, pois (precisamos todos, pois não existe alternativa), de retomar rapidamente essa iniciativa, e o governo só o poderá conseguir não através de medidas do tipo “mais dinheiro ou mais investimento despejado sobre assuntos mais ou menos consensuais" - como o tema dos “computadores e banda larga” levado, com maus resultados, ao último debate na AR - mas através daquilo que definiu a sua imagem, criou expectativas e consolidou apoios: as reformas. Back to the basics, mais do que nunca, portanto, que é o que se deve fazer quando os problemas parecem surgir de todos os lados menos de onde deviam (isto é, fruto de uma consequente política de reformas), quais fogos a que é preciso acudir.

Mas aí é que “a porca parece torcer o rabo”, num governo fragilizado “onde mais dói”, isto é, na pessoa do próprio primeiro ministro por via da sua licenciatura, pelo disparate da Ota e por questões, menores mas relevantes na opinião pública, como o caso da DREN. Mais ainda, vem aí a silly season, as eleições em Lisboa e a presidência da União, condições pouco propícias a grandes iniciativas internas. Para já, algo o governo fez bem: adiou por seis meses a questão do novo aeroporto, o que encerra, provisoriamente, uma das frentes, independentemente dos benefícios que isso também traz para o país - o que, contudo, parece não ter sido bem a sua preocupação principal. Por aqui, o programa segue dentro de momentos (seis meses). E o resto?

Uma eventual vitória clara em Lisboa parece constituir uma excelente ocasião para um relançamento da imagem e do élan reformador do PS, se for aproveitada para lançamento de um programa de ruptura destinado a resolver os problemas imediatos da cidade por parte de um eventual executivo liderado por António Costa. O facto de não dominar a Assembleia Municipal e de ter, muito provavelmente, de partilhar o executivo serão, contudo, limitações importantes. No entanto, se for inteligente, o PS e principalmente António Costa, com ambições políticas, não deixarão de explorar esta “pista”.

E o governo? Sei que será difícil, mas terá de reagir à tentação das “tréguas” oferecida pela presidência da UE; terá de deixar de se dispersar e focar a sua actividade onde é realmente importante e, paradoxalmente, tudo parece mais a meio caminho ou mesmo, por vezes, em recuo: reforma da Administração Pública e ensino. Caso se distraia e deixe fragilizar - dispersando-se - como nos últimos meses; caso ceda à tentação de “agradar” aos sindicatos como parece estar a acontecer no caso da AP evitando a contestação interna durante a presidência portuguesa, isso constituirá, muito provavelmente, uma oportunidade definitivamente perdida e um caminho sem regresso.
Nota: Isto digo eu, que gosto de dizer coisas...

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