terça-feira, novembro 14, 2006

Zita Seabra, Alêtheia e Pedro Santana Lopes

Uma grande “chapelada” à agência de comunicação de dupla Zita Seabra/Alêtheia – Pedro Santana Lopes. Directos nas televisões, notícia em todos os telejornais das oito da noite e, ainda, “sessão da meia noite” na SIC Notícias, é obra. E que dizer das duas primeiras páginas do “Público” de hoje, com chamada de capa e tudo? Claro que PSL foi primeiro-ministro (foi?) e que é sempre uma benção para os “media” (o que não é elogio), mas mesmo assim convenhamos que é obra. Não será por aí (falta de promoção) que o livro não ascenderá a best seller, aposto. Suspeito, no entanto, mas apenas suspeito, que venderá menos do que o “Bilhete de Indentidade” de Maria Filomena Mónica, já que, por opção de PSL - que joga, neste caso, na imagem de político respeitável e traído (e solitário como convém a quem foi traído) - faltar-lhe-á o voyeurisme de alcova em que o livro de MFM é pródigo – e todos sabemos que o voyeurisme político vende bem menos, porque menos íntimo e proibido. Mais a mais, no caso de MFM estamos a falar não só de uma mulher (o que torna esse voyeurisme mais “picante” e transgressor), como de alguém que pertence a um meio social que, à época, cultivava a descrição e a opacidade. Mesmo assim, caso para dizer, como João Soares, “o homem tem mel”.

Mas atenção. Sabemos que não podemos esperar de PSL nada de interessante em termos de pensamento político ou mesmo de qualquer outro, como também sabemos que nada ou pouco, de “não conhecido”, haverá para revelar sobre o que se passou no período do seu governo e da sua demissão. Por isso, este impacto e este mediatismo súbitos não revelam, eles próprios, nada de especialmente louvável em termos do país que somos e do vazio político e intelectual que se instalou. Também, em termos “mediáticos”, claro. Querem provas? À esquerda do PS, procedeu-se à exumação de uma série de cadáveres, já bem pouco “esquisitos”, numa conferência de partidos “comunistas e operários”. No PS, a oposição ficou entregue a quem propõe, com a maior ligeireza, aquele que seria um dos maiores erros políticos da democracia portuguesa: legislar sobre a modificação da lei do aborto no caso de o “não” ganhar, mesmo que sem percentagem de participação vinculativa. No PSD, Marques Mendes salta para o colo de Jardim e até de onde menos se espera (do sempre interessante José Pacheco Pereira) nada de mais notável chega do que uma campanha sobre um dejà vue de há vários governos: a “manipulação” informativa da RTP. Mais uma razão para tirarmos o chapéu à agência de comunicação da “Alêtheia”: se não foi por acaso (o livro é para vender no Natal), o timing foi mesmo na mouche!

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