sexta-feira, novembro 24, 2006

O PCP e a deputada Luisa Mesquita

O primado do colectivo no PCP nasce nas lutas da primeira metade do século XX, das empresas muito hierarquizadas, com um enorme número de trabalhadores indiferenciados, pouco qualificados e executando tarefas idênticas, pouco especializadas e repetitivas. Empresas, essas, maioritariamente industriais, do “sector produtivo”, como lhe chama o PCP com o seu “não sei o quê” de nostalgia. Do tempo em que, pela própria natureza das mesmas, do processo produtivo de então e do tipo de funções executadas, a competição entre os operários era, em si mesma, algo esvaziado de sentido, num mundo empresarial onde o que conta é maioritariamente a capacidade produtiva e não o “conhecimento”, a criatividade ou a inovação. Era o terreno de eleição dos grandes "contratos colectivos". Por último, era uma luta por vezes muito difícil, travada em condições de grande repressão e mesmo de clandestinidade numa época em que as ditaduras ocupavam ainda um espaço relevante.

Tentar reproduzir esse mundo e essa organização no século XXI não faz qualquer sentido, e entra mesmo em contradição com personalidades moldadas por e num mundo que não é mais esse mas o da diferença, da singularização, da imaginação e da criatividade. Do indivíduo, enfim.

O caso da deputada Luísa Mesquita (e de Odete Santos?) parece-me, pois, reflexo dessa mesma contradição, dessa luta entre uma personalidade moldada já num tempo e num meio diferentes daquele que ainda configura o primado do colectivo do PCP, do ex-operário Jerónimo de Sousa. Mais do que uma divergência política ou de ideias, ou ideais, é uma afirmação de individualismo rebelde, que se saúda.

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